
– Mantenha sua direita! gritou o homem de pasta modelo 007.
– Luz baixa ao cruzar veículo! retrucou o de bengala na mão.
Após breves saudações e cumprimentos, decidiram, já que seguiam, seguir juntos.
– Bonito dia, hem? puxou assunto o de pasta 007.
– Nunca se sabe, respondeu o da bengala, há quem o ache feio. Ademais, é bem possível que caia uma linda tempestade, e que logo depois faça um horrível sol pardo.
– Boa estrada, esta, disse o de pasta.
– É verdade. E é nacional. Longe vai o tempo em que precisávamos importar estradas por navio.
– Está apenas um pouco desregulada. Você já notou que a paisagem da direita vai um pouco mais depressa?
– Isso diminui a monotonia da viagem, respondeu o de bengala na mão.
– Falar nisso, para onde vai você? perguntou o de pasta modelo 007.
– Como se vê, acentuou bem o da bengala, lançando um olhar feroz ao da pasta, não vou a lugar algum. Os outros é que passam por mim em sentido inverso.
O da pasta calou-se, talvez arrependido da pergunta, talvez maldizendo o homem de bengala na mão. Ia nisso, quando furou um sapato.
– É muito chato, principalmente em viagens, falou o da bengala. Mas não pare na pista!
Depois de já trocado o sapato, o da pasta quis saber para onde ia aquela estrada.
– Nunca se sabe, respondeu o de bengala na mão. Essas estradas são muito inconstantes. Tanto podem dobrar na próxima esquina, como podem passar a ir no sentido
contrário àquele em que estão.
Mal o da bengala disse isso, a estrada deu meia-volta e apressou a marcha. Certamente por estar ainda desacostumada com aquele roteiro, e talvez um pouco tonta,
descarrilhou na segunda curva. Os dois viandantes, depois de verem que não se tinham machucado, subiram na paisagem da esquerda e continuaram o passeio.
Obs: Texto retirado do livro do autor – Livro dos Silêncios