Padre Beto 1 de março de 2017

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“In July – O outro lado das férias” de Fatih Akin nos oferece uma viagem divertida e totalmente aberta para o inesperado. Daniel, um jovem e tímido professor de Hamburgo decide seguir o que acha ser sinais de seu destino. A aventura começa quando Daniel conhece Juli, uma vendedora de rua que garante estar vendendo para ele um anel que o levará a um verdadeiro amor. A partir daí, Daniel inicia um diálogo consigo mesmo e o jovem professor faz a experiência de aprender com os acontecimentos que a aventura da vida lhe oferece. Em resumo, nosso protagonista faz um verdadeiro e corajoso mergulho na vida.

A sintonia com Deus deve ser um dos principais objetivos de todas as religiões. Porém, esta sintonia deve simultaneamente acontecer de duas formas. A primeira é de uma forma esotérica. O caminho esotérico é um caminho para o interior, uma viagem profunda para o nosso próprio centro. A este ato de centrar-se costumamos chamar, pelo menos no Cristianismo, de “oração”. Na verdadeira prática da oração acontecem ao mesmo tempo dois encontros: um encontro com nosso próprio eu, com a nossa própria realidade, e um encontro com o ser transcendente que chamamos de Deus. Afinal, estar em oração significa reunir tudo aquilo que estou sendo no momento e colocar este conteúdo de vida e existência diante de Deus. Oração é, em primeiro lugar, um encontro consigo mesmo. Ao se revelar a Deus, o ser humano se revela a sua própria consciência. À medida que me coloco em oração, paro para contemplar minha própria vida, meus sentimentos, pensamentos, pessoas com as quais convivo, as situações que estou vivenciando. A oração cria um espaço de liberdade, no qual podemos ser nós mesmos revelando nossa história atual. Ela não deve ser motivada pelo medo, mas pela necessidade de encontrarmos livremente com o nosso próprio eu. Além desse encontro livre e íntimo comigo mesmo, na oração vivencio um estar diante de ou em Deus. A oração é uma forma de percepção de que estamos em sua companhia e somos sua companhia. Fundamental não é como oramos, mas o sentir a presença da Força de Vida que deu origem ao universo. O formato da oração não é o essencial. Os hindus e budistas cantam mantras, os mulçumanos e judeus possuem gestos corporais, entre os cristãos encontramos desde o tradicional terço até as orações espontâneas, diálogos sinceros de amigo para amigo. Exatamente o que falamos ou a postura corporal que possuímos é uma opção particular de cada pessoa, mas o essencial para que a oração aconteça é a consciência de estar diante de Deus. De qualquer forma, oração é um exercício de percepção da realidade e de percepção da presença do Criador, da Fonte de Vida, do próprio Deus. Através da prática da oração fazemos a experiência de que Deus nos acolhe e participa de nossa vida.

A segunda forma de estar em sintonia com Deus podemos chamar de exotérica. Exotericamente estamos em sintonia com Deus quando exteriorizamos nossa força divina ao universo que nos circunda. Vivemos exotericamente a sintonia com Deus quando nossos atos concretos demonstram o amor a nossos semelhantes e à própria vida. Essa forma de sintonia deve ser consequência da primeira, da oração. Afinal, a própria palavra “oração” contém a expressão “ação”. Em outras palavras, a oração deve nos levar a uma atitude. “Não amemos só com palavras e de boca, mas em ações e de verdade” (1 Jo 3, 18). Quem se coloca diante de Deus não permanece estático diante da vida, mas faz o possível para que a vida se desenvolva. Se rezamos para um doente, a oração deve nos levar a fazer algo de concreto para com este semelhante que no momento sofre. Não é Deus que irá curá-lo, mas o contato com Deus deve nos dar lucidez para que sejamos concretamente solidários para com o doente. Se rezamos para que surja uma oportunidade de emprego, Deus não irá nos oferecer um espaço no mercado de trabalho, mas nos dará ânimo, entusiasmo e criatividade para encontrarmos uma atividade profissional. Não adianta frequentar cerimônias religiosas, se não transformamos nossa prática, se não refletimos Deus ao nosso universo. Quem pertence a uma religião e possui uma ética egoísta, mesquinha, exploradora ou corrupta está, na verdade, enganando a si próprio ou sendo hipócrita. O Cristo é enfático em dizer que todo aquele que não dá frutos possui sua sintonia com Deus interrompida por Ele mesmo (Jô 15, 2). Na verdade, a sintonia exotérica com Deus é a mais profunda e exigente, pois ela é um acontecimento que transforma não somente o interior, mas principalmente o exterior. Essa forma de sintonia independe da pertença a uma religião. Para o teólogo alemão Karl Rahner, há muitos “cristãos anônimos”, ou seja, pessoas que não frequentam uma religião cristã ou assumem a postura de não acreditar em Deus, mas são pessoas íntegras, justas, fraternas, amorosas e solidárias. Essas pessoas inconscientemente estão em perfeita sintonia com Deus, pois transmitem em seus atos luz de vida às situações nas quais estão envolvidas. Os religiosos, por sua vez, possuem uma responsabilidade maior; afinal, desejam, de forma consciente, a sintonia com Deus, a qual não se reduz a uma simples prática intimista.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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