Num mundo onde grande parte da classe média e da classe alta está mudando seus hábitos de consumo por causas ambientais, não poderia mesmo haver uma inflação de demanda. Mas como sustentar a capitalismo financeiro sem a dívida, sem o crédito?! Foi aí que chegou a vez das famílias marginalizadas entrarem no rol do consumo via empréstimos (endividamento, crédito “fácil”). Esse novo grupo de compradores é, acima de tudo, inconseqüente, entende pouco de finanças pessoais, pois nunca teve essa experiência antes. E o calote comeu no centro (do capitalismo). Ninguém recebeu de volta o que emprestou, as empresas venderam a quem não podia pagar, as construtoras e imobiliárias abrigaram os que não podiam morar, “sem-tetos crônicos”.
Mas eles sabiam, sempre sabem… Mas não há nada a fazer diante da “racionalidade” do mercado. Melhor dizendo, há sim: aumentar os juros para acalmar-se psicologicamente e sustentar o risco. Como disse o pesquisador do IPEA, o economista João Sicsu: “esses caras amam o risco de morrer”. Morrem por dinheiro, na verdade. Muitos outros, no entanto, morrem pela falta dele. É a ironia deste jogo insano.
O sistema econômico, baseado na propriedade privada dos meios de produção e na separação entre capital e trabalho, mostrou mais uma vez que não consegue incluir. Isto porque se sustenta na contradição clássica da concentração dos meios de pagamento vesus expansão da oferta de produtos. Sem contar a relação entre poupança e investimento, reflexo da contradição principal, que requer, para o desenvolvimento social, um nível de poupança não suportável para uma sociedade com distribuição de renda justa. Só poupa quem tem em excesso. Logo, só países que têm em excesso podem viver a “ilusão” do desenvolvimento no capitalismo. É a lógica.
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