Djanira Silva 15 de março de 2017

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Hoje amanheci trancada a sete chaves. Não tenho sequer uma senha para afastar a pedra da entrada. Abre-te Sésamo! O mundo reage, se fecha. Nem seí se quero realmente encontrar alguma forma de sair. Já entrei aqui em fuga. Tento me esconder de um mundo que já não me encanta. Fugir desses rostos pré-fabricados com sorrisos presos no limite do nada, no contorno de lábios reciclados que tentam esconder a história de quem há muito já está no passado.

Estou aqui de volta de uma ida onde encontrei um céu azul, tão limpo e tão brilhante como uma folha de papel em branco. Pensei em escrever uma nova história naquele deserto azul. Senti como se velhos textos tivessem sido apagados, deixando espaço à espera de novas mentiras. Enquanto penso, o céu tão limpo e brilhante parece rir da petu1ância de quem quer contar histórias prescritas. Com que alma hei de colorir este céu?

Sinal aberto. Vou em frente. Ou para cima, ou para baixo? Nem sei. Nunca pensei tornar-me hóspede na minha casa nem visitante na minha aldeia. Com que tonalidades enfeitarei este céu que jamais será o mesmo dos meus antigos caminhos de poeira e fumaça. Presa a sete chaves isolada de mim. Da poeira das idas e vindas, das paradas bruscas. Fumaça da incineração de sonhos no calor imensurável de uma tristeza sem razão. O que me entristece são as alegrias passadas, cicatrizes talvez mais doloridas do que as das tristezas de agora. Ter sido alegre e não ser mais é o começo de uma morte anunciada. Lá em cima o encantamento de um céu azul, tão azul me dá uma agonia no juízo. Espero pelas ideias. A menina acorda, insinua molecagens. Não posso deixar aquele azul atrevido, continuar me agredindo. Picho o céu com a fúria de um pichador de paredes. Os anjos riem e apagam, com capuchos de nuvens, as marcas inúteis da minha revolta.

Obs: Texto do livro da autora –Morte Cega –

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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