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A crise está intrigando. Por sua persistência e complexidade. Todos se dão conta que ela é mais ampla do que parecia.
Afirmava-se, de maneira equivocada, que ela se reduzia ao impasse em torno do governo federal, mais especificamente em torno da presidência da república.  Se a análise era equivocada, do mesmo equívoco padeceu a solução encontrada.
Pois a crise continuou, e vai se agravando.
O que caracteriza esta crise é que ela encontrou as instituições também em crise. Estamos próximos de um colapso institucional.
Temos um governo que não inspira confiança. A Presidência da República manifesta evidente constrangimento diante da imagem que difunde e da perplexidade que revela, provocando um clima de reserva e de progressiva decepção.
As suspeitas em torno de numerosos senadores e deputados causam insegurança. Não temos nenhuma personalidade política que se imponha por sua autoridade moral ou pela firmeza de suas convicções.
Está na cara que o Congresso Nacional está contagiado de mediocridade, e carece de inspiração.
Se olhamos para o órgão maior do judiciário, a impressão é também de desconfiança e de insatisfação. O Supremo Tribunal Federal não passa a imagem de isenção e de imparcialidade. O Judiciário também está em crise.
Quando a tempestade é violenta e generalizada, mais necessário se torna identificar algumas âncoras seguras. Para enfrentar a crise, do tamanho que ela tiver, é indispensável termos referências claras e consistentes. Para perceber que nem tudo está a perigo, e que é possível administrar os desafios que a realidade apresenta.
Independente de qualquer solução que for tomada para enfrentar a crise, primeiro se faz necessário reencontrar referências orientadoras, que nos situem e nos mostrem a consistência dos caminhos a seguir.
Temos pela frente boas oportunidades para aprumar nossa postura diante de crise. Uma delas é a temática da Campanha da Fraternidade deste ano, que acena claramente para a importância da ecologia como referência sempre válida em nosso agir pessoal e coletivo. Mesmo com o tema complexo dos “biomas brasileiros”, a CF nos anima a ter como critério a natureza, que carrega dentro de si mesma a sabedoria que nos ensina a encontrar os caminhos da vida.
Outra referência pode ser encontrada na proposta da quaresma, que cada ano se manifesta sempre válida. É o tempo propício para refletir sobre o sentido mais profundo de nossa vocação humana, que comporta também momentos de crise, que nos oferecem a possibilidade de ultrapassar limites que parecem insuperáveis.
Assim a crise pode ser vista, não como obstáculo, mas como oportunidade.

Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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