Sempre achei que uma mulher linda fosse como um poema. Um poema, podemos dividi-lo em três partes: po-e-ma. A mulher, enquanto bela: “a-mu-lher”. De um poema vem a beleza por meio de verso, estrofe e ritmo. A mulher é a beleza por meio de “cor, forma e existência apenas”, em Pessoa. O poema é a escrita que não se esgota na função denotativa. É o texto que se lê com o coração, que permanece no coração, com cê de conotação. Como a bela mulher que sempre fica por onde passa. Permanece aguda no tempo e no espaço. Passa a correr nas veias.
Um poema é meticuloso. Deixa-nos marcados por detalhes que jamais compreenderemos bem. A inspiração é reserva do poeta. Da mesma forma acontece com uma linda mulher. Ela marca os homens com uma espécie de esperança que “só a que eles não têm”. É uma disrupção do real pelo sublime. A beleza marcada à imagem e semelhança divinas. É arquétipo. É um arroubo do eu profano. E ignota é a inspiração da mente etérea.
Poema é trabalho humano delicado. É o que sobra na pedra lapidada. É simulacro. Divisa um sentido para a vida. A mulher realiza-o. Estabelece-se pelo zênite do que é belo. É a suficiente condição do fruir. Se o poeta se esforça, a mulher é. Se o poeta escreve, a mulher é. Se o poema exige beleza, a mulher é. E o poeta sofre. Ele está condenado a fingir. Sabe que o real nunca se curvará à extensão de suas letras. Um poema é só um pouco de uma linda mulher.(03.04.2010)