Tassos Lycurgo 15 de fevereiro de 2017

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Ontem (10 de março), o Sr. Kofi Annan, Secretário-geral da ONU, em um encontro internacional sobre segurança, terrorismo e democracia, apresentou uma estratégia mundial de combate ao terrorismo. Essa estratégia contém cinco pontos, os quais, caprichosamente, começam todos com mesma letra quando escritos em inglês. Assim, a idéia do Secretário-geral ficou bonita na foto, sendo apelidada, inclusive, de Estratégia dos 5 D’s.

A primeira tática é a seguinte: dissuadir as pessoas descontentes a adotarem o viés terrorista em suas vidas. Certo, para isso, o Sr. Annan propõe que não apenas os líderes políticos, mas também os religiosos e toda a sociedade civil deixem claro que consideram os atos terroristas terríveis e indesculpáveis. Bem, eu não sei o que pensa o Sr. Annan, mas todos os que já não são convictos terroristas, ao que me parecem, pensam assim há muito tempo. Os que são, por suas vezes, almejam exatamente os atos terríveis e indesculpáveis, pois estes são os que imprimem o que eles querem: o terror na população.

Como se já não bastasse a donzelice do argumento do Sr. Annan, ele ainda propôs que as pessoas não confundissem o direito de resistir a uma ocupação com o suposto direito de deliberadamente matar civis. Isso já foi algum dia confundido? Ora, matar civis, na ótica dos assassinos, pode ser tudo, menos agressão contra os militares ocupantes. Quem mata civis são os terrorista; quem mata militares são os rebeldes. Bem que a ONU, em algumas situações, também já matou civis e tudo ficou impune. Para lembrar só um caso, peguemos a morte de vários manifestantes civis, alvejados por soldados da França sob a bandeira da ONU, em novembro de 2004, na Costa do Marfim.

A segunda tática seria esta: negar aos terroristas todos os meios que eles teriam para efetuar os seus ataques. Entendi: a partir de agora, todos ficam avisados que carros-bomba, granadas, explosivos, etc., não devem ser dados nem vendidos a terroristas. De forma mais complexa, é bom também informar às instituições financeiras que elas não devem oferecer crédito nem vantagens àqueles que pretendam explodir um prédio aqui ou matar um grupo acolá. A própria ONU fecha os olhos sempre que pode: lembremos os casos de Ruanda e da ex-Iugoslávia, nos quais, segundo alguns, a ONU foi útil apenas na contagem dos cadáveres, sem falar no Sr. Kojo Annan, filho do Secretário-geral, que está sendo acusado de ter-se beneficiado com a intermediação de negócios no Iraque pós-guerra.

A terceira tática consiste em impedir países de apoiar o terrorismo. Será que essa parte foi escrita pelo Sr. Bush? Aqui, o Sr. Annan passa a defender a doutrinaneocon (dos novos conservadores dos EUA), a qual, como se sabe, sob o manto do “impedir países disso e daquilo”, justifica a guerra preventiva, o julgamento sumário de pessoas sem respeito ao devido processo legal (due process of law), a criação de tribunais de exceção, entre outras barbaridades. Caso não seja esta a intenção do Sr. Annan, é bom que ele esclareça como seria possível convencer um país a não apoiar grupos terrorista senão pela intervenção armada, já que, em regra, tais Estados são praticamente imunes a quaisquer sanções econômicas que por ventura a ONU sugira. Ora, eles são quase sempre donos do petróleo e, assim como o menino dono da bola, tem presença sempre garantida no grande evento.

A quarta medida consiste em desenvolver nos países a capacidade de prevenir o terrorismo. Mais uma vez, o Sr. Annan se alinha ao Sr. Bush, principalmente no ponto em que se nota que o intuito de desenvolver algo em outro país é, nas lentes da Casa Branca, sinônimo de imprimir a um ou outro Estado a democracia tal qual é entendida pela moda americana. Não que eu tenha problemas com a democracia dos EUA (pelo contrário, até a admiro), mas esse sistema, por definição, não pode ser imposto. Ora, não se impõem a liberdade, a democracia, a opção de escolha, o respeito pela individualidade, a não ser, como fazem os EUA, com o objetivo (talvez legítimo sob sua ótica) de manutenção de sua hegemonia no planeta (uma das perguntas centrais das Relações Internacionais é: o que deve um país líder do mundo fazer para manter-se nesta posição?), o que não pode ser a bandeira, obviamente, de uma instituição multilateral por excelência, como deve ser a ONU.

O quinto ponto concerne à defesa dos Direito Humanos através, principalmente, da tentativa de incutir na cabeça das pessoas a tolerância, o respeito mútuo, a motivação pacífica, entre outros sentimentos nobres Aqui, concordamos eu e toda a humanidade não-terrorista com o Sr. Annan, resta fazer com que essas doces palavras invadam e ocupem a mente daquele que está disposto a matar-se a si mesmo e a uma dezena de pessoas em prol de uma causa qualquer. Será difícil.

O que se vê, em resumo, é que a ONU está gradativamente se tornando um ambiente apenas para crianças (e alguns assemelhados). O próprio Sr. Annan transmuta-se cada vez mais em uma figura não-humana: aquele olhar vago, aqueles braços estirados, aquela letargia, tudo nele é a ONU: inerte e inoperante, mas poética e dispendiosa.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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