Rejane Menezes 15 de fevereiro de 2017

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“Eu acredito que o mundo será melhor/ Quando o menor que padece acreditar no menor”.

O Memorial Dom Helder Camara se encheu de emoção e alegria no comecinho da noite dessa quinta-feira, 26 de janeiro, ao receber a visita da Companhia do Tijolo, que produz e encena a peça O AVESSO DO CLAUSTRO, que esteve em cartaz em Recife, no teatro Santa Isabel. No último final de semana de janeiro.

Mas, antes de falarmos sobre essa visita que tanta alegria levou ao Memorial Dom Helder Camara, vamos falar um pouco da história dessa trupe de jovens idealistas e que acreditam na força das ideias e da arte.

QUEM É A COMPANHIA DO TIJOLO?

 A Cia do Tijolo surgiu de um sonho. O sonho de Dinho Lima Flores criar um trabalho sobre a vida e a obra do poeta Patativa do Assaré. Rodrigo Mercadante e Fabiana Barbosa juntaram os sonhos com o de Dinho e, de um primeiro contato com os poemas nasceu o sarau literário-musical  “Cante lá que eu Canto Cá”

Entretanto ainda não era o bastante para saciar o desejo de espalhar Patativa pelo Brasil. O show não mostrava ao público a grandiosidade do poeta, agricultor e cantador.

“Poeta, cantô de rua, Que na cidade nasceu,
Cante a cidade que é sua, Que eu canto o sertão que é meu.

Se aí você teve estudo, Aqui, Deus me ensinou tudo,
Sem de livro precisá , Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mexo aí, Cante lá, que eu canto cá. …”

E o sonho de levar Patativa aos palcos continuou. Como levá-lo aos palcos sem se perder na infinidade de assuntos dos quais ele trata ou sem cair na tentação de simplesmente dramatizar sua biografia

Depois de uma conversa com o diretor Ilo Krugli e a educadora Rita Rozeno em Theotônio Villela, a luz surgiu, ao constatar que o  Brasil possuia um dos maiores índices de analfabetismo funcional do mundo e tristeza disso acontecer no país onde Paulo Freire desenvolveu a sua pedagogia do oprimido. A conexão para levar Patativa aos palcos era exatamente essa contradição: um homem que só estudou seis meses e desenvolveu extraordinariamente em si as possibilidades poéticas, práticas, reflexivas no manejo da língua.

Qual caminho percorreu Antônio Gonçalves da Silva até alçar vôo e chegar à Patativa?

E, foi em Paulo Freire que veio a inspiração para o nome Cia do Tijolo. O primeiro passo no processo de alfabetização do método criado por Paulo Freire é o levantamento do universo vocabular dos grupos com que se trabalha; são palavras ligadas às experiências existenciais, profissionais e políticas dos participantes dos diferentes grupos. Foi assim que em Brasília, cidade ainda em construção nos anos 60, surgiu entre os estudantes de Paulo Freire a palavra TIJOLO.

Para a montagem da primeira aventura de criar um trabalho em conjunto, vieram Rogério Tarifa, Karen Menatti, Aloísio Oliver, Maurício Damasceno, Jonathan Silva e Thais Pimpão. Com eles, as histórias pessoais e profissionais de cada um. Vieram as experiências com Ventoforte, Casa Laboratório e Cia. São Jorge. Vieram Tacaimbó, Belo Horizonte, Maringá, Vitória e São Paulo.

E foi colocando tijolo por tijolo do sonho de montar uma peça teatral, que surgiu a Companhia do Tijolo, que hoje conta com quatro peças produzidas, montadas e levadas em cartaz. E hoje vive a aventura de construir o que é a Cia. do Tijolo.

E dessa construção de tijolo por tijolo, em um desenho mágico, confirmando a afirmação de Dom Helder de que “Sonho que a gente sonha sozinho é só um sonho. Sonho que a gente sonha junto é o começo da realidade”, nasceu, em 2010,  o “CONCERTO DE ISPINHO E FULÔ”, levando aos palcos a vida de Patativa do Assaré.

Mas não pararam por aí e alçaram um voo em céus internacionais. Amor. Liberdade. Revolução. Três palavras tão ditas, ouvidas, desgastadas, mas, ao mesmo tempo,  tão cheias de força e verdade que foram as escolhidas pela Cia do Tijolo para criar seu segundo espetáculo: CANTATA PARA UM BASTIDOR DE UTOPIAS, baseada em um texto do Federico García Lorca: Mariana Pineda, obra de juventude do poeta espanhol, que conta o trágico destino de uma heroína de seu país.

A terceira peça não poderia deixar de fora Paulo Freire, o grande inspirador do nome da companhia e caminho para chegar à construção da primeira peça. Inspirada no poeta Zé da Luz e no pensamento e prática do educador Paulo Freire, nasceu LEDORES DO BREU, um monólogo dramático com Dinho Lima Flor, que  discute o analfabetismo no Brasil. O texto é inspirado ainda em diversos escritores, letras de músicas de Cartola e Chico César. Trata das relações entre o homem sem leitura e sem escrita com o mundo ao se redor.

E, chegamos à quarta peça dessa construção de sonhos. Integrante de Comunidades Eclesiais de Base em sua cidade natal, Dinho levou, lá de Tacaimbó, agreste de Pernambuco, para São Paulo, a experiência que viveu em sua cidade e os ensinamentos de Dom Helder, que lhe chegavam através do padre da cidade e das notícias sobre a atuação do arcebispo da capital. Para Dinho, Dom Helder é sinônimo de Libertação. E. assim, com a orientação teológica de Frei Betto e tendo livros de Marcelo Barros, entre outros, como fonte de consulta, nasceu O AVESSO DO CLAUSTRO, que leva aos palcos, a vida de Dom Helder Camara e que está em cartaz em Recife, nesse final de semana, dentro do projeto Janeiro dos Grandes Espetáculos, no Teatro Santa Isabel.

A VISITA

 Apresentar a peça em Recife é o primeiro passo do sonho da Companhia de fazer uma temporada na cidade onde Dom Helder viveu por 35 anos e deixou um legado de exemplo de vida e uma extensa obra, onde registrou seus pensamentos, sua fé, seu compromisso com a defesa dos direitos dos pobres, dos oprimidos, dos excluídos da sociedade e, acima de tudo, a sua esperança.

Os integrantes da Companhia do Tijolo solicitaram uma visita ao Memorial Dom Helder Camara e, foram convidados, para um bate-papo informal para depois da visita, pelos grupos Encontro da Partilha e Fé e Política e pela diretoria do IDHeC.

Guiados na visita ao Memorial pela historiadora do IDHeC, Lucy Pina, Dinho, Rodrigo, Felipe, Lucas, Alessio, Clara, Flávio, Jonatan, Karen, Laíssa, Luanda, Maurício, Lílian e Cris, acompanhados do produtor recifense Toninho Rocha, se emocionaram ao ver a simplicidade da pequena morada do Dom, após assinar o Pacto das Catacumbas, em 1965 e sair do palácio dos Manguinhos, para morar atrás do altar mor da igreja das Fronteiras.

Ouviram com atenção cada palavra sobre o Dom, a sua vida, suas viagens, seus encontros. Encantaram-se com a igreja das Fronteiras, ficaram maravilhados com a Exposição e, finalmente, foram par ao Espaço Dom Lamartine, o terraço das Fronteiras, para o bate-papo. Os depoimentos que cada um deu, da emoção que sentiu, da alegria de estar ali, das coisas boas que sentiam ao participar da peça sobre Dom Helder, são indescritíveis. Foi enriquecedor, podemos dizer, uma super dose de energia e esperança, ouvir aqueles jovens falarem do quanto estão felizes e entusiasmados com Dom Helder e de como pretendem levar adiante a sua mensagem, sobretudo para os jovens.

O jovem casal Maurício e Luanda falaram de toda a sua emoção e do presente que receberam quando se preparavam para vir ao Recife: a notícia de que estavam esperando um bebê. O monge Marcelo Barros, ao final do bate=po, convidou a todos a dar uma bênção ao casal e ao bebê que está a caminho e foi mais um momento emocionante, nessa noite de tanta luz e alegrias.

E quando já as despedidas estavam em andamento, uma surpresa: essa turma alegre e cheia de energia, voltou para a igreja e presentou os presentes com uma belíssima apresentação, à capela, que encheu ainda mais de emoção a todos.

Uma notícia em primeira mão, teve início aqui em Recife, a filmagem do documentário O AVESSO DO CLAUSTRO, com filmagens no dia da visita

Os integrantes dos grupos Encontro da Partilha e Fé e Política, e os representantes da Diretoria e Conselho do IDHeC, ali presentes, se sentiram renovados e fortalecidos, no trabalho para preservar e divulgar a memória da vida e da obra de Dom Helder. Com a mais absoluta certeza, a peça O AVESSO DO CLAUSTRO é um instrumento de divulgação da mensagem do Dom e está sendo utilizado com poesia e beleza.

Vamos agora torcer para que esse novo sonho da Cia do Tijolo de fazer uma temporada da peça aqui em Recife se realize e que ela volte ao Recife o mais breve possível. Afinal, sonho que a gente sonha junto …

Obs: A autora é  jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação.
Fotos da autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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