ARMARINHO TEM-TEM

Ao contrário dos comerciantes tradicionais (Jubal Carvalho, Zé Crispim, Adalula e Raimundo Andrade), Fefi era homem de criar e não de clonar. Altamente comunicativo, inovador e diferenciado, não parecia pertencer a uma geração de homens de negócios tão acanhados. Abrigava uma combinação acentuada de ânimo e inquietação, e tornou-se pessoa destacada na vida social de Itabaiana pelo talento e discernimento intensos que possuía. Exalava prestígio de gente famosa como os astros do cinema e da televisão, sendo considerado uma fonte de criatividade, responsável por seu relacionamento muito influente nos movimentos culturais da cidade. Foi uma pessoa de percepção das mais elevadas no sentido do progresso social e suas produções festivas, pela força de persuasão, causavam afluência acentuada de gente. Fefi era homem branco de relógio no braço e de pouca altura do chão. Sua cabeça apresentava configuração ligeiramente exagerada e desproporcional ao corpo. Parecia um bem-te-vi recém-nascido. Possuía cabeleira preta, cheia, bonita de longas ondulações e seu nariz, nada harmonioso ou artístico, lembrava o nariz dos anões da história da Branca de Neve.

Fefi deu vida ao Armarinho Tem-Tem e criou um comercial de grande qualidade, por não exigir do público esforço intelectual para assimilar: “Armarinho Tem-Tem / Tem tudo que os outros não têm / Pelo preço que lhe convém”. Localizava-se, estrategicamente, na esquina da Rua Augusto Maynard com Rua da Flores e possuía algo de hipnótico. Sua presença exercia forte poder de atrair, encantar, e causar alegria e prazer na população infantil, transformando-se no fascínio dos sonhos das crianças. Era a principal referência em brinquedos e estava sempre lotado de clientes em busca de presentes para os filhos. Mesmo para quem não fosse comprar valia a pena visitar o lugar preferido das crianças. Naquela época a cidade vivia em harmonia. Era possível sentar-se nas calçadas ou nos bancos das praças, fazer passeios a pé, no final da tarde ou a qualquer hora da noite, pelas ruas da cidade para trocar olhares com as donzelas na Praça da Igreja e para assistir os ensaios da banda de música e dos blocos Lobo do Mar e Margem da Serra.

Durante o período de maior desenvolvimento de Itabaiana, grandes lojas invadiram a cidade, sendo estabelecida concorrência predatória, com a vantagem indo na direção dos grandes grupos comerciais, criando dificuldades que trespassavam o domínio das pequenas lojas. A fragilidade econômica logo veio à superfície e foi impossível aos pequenos estabelecimentos sobreviverem por muitos anos, e, já faz bastante tempo, é verdade, que o Armarinho Tem-Tem fechou suas portas e nenhum outro apareceu para nos fazer feliz como ele fazia, com seus programas de calouros, com as passeatas diárias de Papai Noel na semana de Natal, com exposição permanente de rico estoque de brinquedos, perfumaria e os adornos que tornavam belas as roupas das mulheres nos dias de festa.

Minha geração mantém acesa de forma simples, inesquecível na memória, tão vivos como se estivessem em plena atividade ainda hoje, o Armarinho Tem-Tem de Fefi e Marlene; o cinema de Zeca Mesquita, o cinema do Padre e a “Praça dos Amores”, cantada em prosa e versos por José Marcondes. (20/01/2017)

Obs: O autor é médico e membro da Academia Itabaianense de Letras.