foto Aurelio Molina entrelaços

A grande maioria da população pernambucana rejubila-se, com justa razão, de termos a melhor educação pública do Brasil. Sentimento compartilhado, ao redor do mundo, por muitas famílias, escolas, governos parceiros e gestores de programas de intercâmbios internacionais que desde o início do Programa Ganhe o Mundo (talvez a mais decisiva ação para o nosso “ponto de mutação”) acolheram de forma diferenciada nossos 5.000 jovens da rede pública que foram “viver” um semestre letivo no exterior. Merecem nosso reconhecimento e gratidão. É importante ressaltar que essa “conquista” não é trivial e todos os educadores sabem das inúmeras e complexas variáveis envolvidas no processo ensino-aprendizado. Não foram poucas as intervenções realizadas em Pernambuco para combater o paradoxo educacional brasileiro que é o de ainda termos alunos do sec.XXI, professores do séc.XX, práticas pedagógicas do séc.XIX e infraestrutura do sec.XVIII. Entretanto, falta muito para termos a educação de qualidade que nosso povo merece e nos permita ter um papel relevante e soberano no concerto das nações. Precisamos continuar atuando nos seis principais grupos de macro variáveis, isto é, potencial cognitivo de nossas crianças e jovens, motivação dos mesmos para o aprendizado contínuo, competência pedagógica do educador, incentivos para o professor (incluindo salários dignos), políticas e práticas pedagógicas coerentes com a geração Y/Z e condições físicas e estruturais adequadas, lembrando que cerca de dois terços da explicação do desempenho dos alunos está “fora da escola” (ex: condições socioeconômicas das famílias). Além disso, segundo Paulo Freire, ensinar exige rigorosidade metódica, pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criticidade, estética, ética, exemplo, riscos, aceitação do novo, rejeição a qualquer forma de discriminação, consciência do inacabamento, reconhecimento de ser condicionado, autonomia do educando, bom senso, humildade, tolerância, apreensão da realidade, alegria, esperança, curiosidade, segurança, competência profissional, generosidade, comprometimento, liberdade e autoridade, tomada consciente de decisões, saber escutar, disponibilidade para o diálogo, querer bem aos educandos, luta em defesa dos direitos dos educadores, compreensão que a educação é uma forma de intervenção no mundo e convicção de que a mudança é possível. É importante reafirmar que o potencial cognitivo tem relação direta, na gestação e na primeira infância, com saúde, estímulo e alimentação adequada, sendo que todos devem ter acesso à creche e educação infantil e devem aprender a ler e escrever até os 6 anos. A partir daí o foco principal deve ser o estimulo para a leitura, pois quem lê sabe mais, pensa melhor, compara ideias, prepara-se melhor, tem o que falar e responder, fundamenta opiniões, aumenta sua compreensão, melhora seu vocabulário, absorve experiências e, finalmente, “sabe” o que está acontecendo. No século da C&T&I, onde “pensar fora da caixa” deve ser paradigmático, que se eduque para autonomia intelectual, despertando (e empoderando), desde a mais tenra infância, os gênios e os dons que existem em cada um de nós, valorizando-se o Bem Comum e a Justiça a serviço do mesmo, num meio ambiente equilibrado e sustentável, para um protagonismo pleno de nossa caminhada existencial.

Publicado no jornal Diário de Pernambuco, 26-09-2016, página A2

Obs: O autor, Prof. Dr. Aurélio Molina, Ph.D pela University of Leeds (Inglaterra) é membro das Academias Pernambucanas de Ciências e de Medicina.

*Ex-Secretário Executivo de Desenvolvimento da Educação de PE, Ex-Superintendente do Programa Ganhe o Mundo e Ex-Conselheiro Estadual de Educação

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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