Djanira Silva 15 de fevereiro de 2017

DjaniraSilva3

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Hoje amanheci assim como quem já foi e já voltou. De onde e para onde não sei acho que devo ter me perdido nos sonhos de ontem. De olhos abertos procuro a imensidão daquilo que só encontro dentro de mim – de olhos fechados. É quando então caminho por estradas misteriosas – todas elas são assim. Descubro-me em cada curva em cada árvore em cada partícula desse pó que sou e que sente muitas vezes necessidade de se integrar ao já fui ao que serei. Complicado. Muito complicado tentar explicar as voltas que damos ao redor de nós mesmos. Afinal,  temos uma alma. O corpo este estranho hospedeiro, não sabe de nada. Estranha sempre  as mudanças que ocorrem nos sorrisos e nas lágrimas de cada dia.

Caminho sobre um chão duvidoso que mal segura meus passos. Não sei se ele ou minhas forças não me permitem um caminhar tranqüilo e sem medos. As ruas saíram do alinhamento. As calçadas sobem e descem feito ladeiras íngremes e tortuosas. A chuva sai do chão e caminha para as nuvens que caídas no chão atapetando as ruas. Os ruídos saem dos meus ouvidos e enchem o mundo de barulhos que entram e saem da  cabeça dos outros e me agridem porque não são meus. Procuro meu rosto nas vitrines. Só vejo sombras nos vidros opacos e não me refletem a imagem que procuro. As lâmpadas se apagam nas poças de sol muito quentes que fervem no chão.  Já não posso estranhar os falsos caminhos por onde ando. Tudo ao meu redor mudou. Onde estão meus pés? E minha cabeça por que gira assim feito os ponteiros de um relógio maluco. Vejo-me reduzida a uma réstia que se projeta por toda parte. Réstia que se multiplica e me multiplica.. Em cada uma um rosto estanho. Expressões que me confundem e me fazem sentir medo de ser. Não, não quero ser. Preciso ficar . Não sei onde. Escuto um nome. Será o meu? Como posso saber  se ao menos sei quem sou. Enlouqueceu! Minha cabeça grita. Louca! Repetem as árvores de cabeça para baixo, os fios de iluminação enroscados nos meus pés, a correnteza da chuva passando sobre minha cabeça, as nuvens forrando o chão, o sol enfiado num buraco da rua. Pedaços de mim incinerados. Um braço que acena. Uma mão que se despede. Um rosto que sorri não sei de quê. Olhos que choram por que não sei. Tenho medo que se reúnam e me destrocem para sempre Vou, estou indo. Para onde?

Sei lá. Sei não. Não sei e nem preciso saber e pronto.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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