Ainda que agarrada a um romantismo cafona sobre a vida e sentimentos, num mundo cada vez mais individualista, materialista, competitivo e pragmático, observo os pássaros, pondo-me deliberadamente em seus lugares. Lá de cima somos ínfimos, um mar de gente atripulada, atrapalhada, ambiciosa, sem tempo para olhar, para um bom dia, para sentir, para amar.
Não sei bem o que está acontecendo mas percebo-me no lugar errado. Tentam roubar-me a alma… calma, essa ninguém vai me levar. Lá de cima pássaros passeios, em disfarce busco com eles um propósito para o declínio em que vivemos, ribanceira abaixo, desenfreado. Vejo meu país roubado por urubus sem escrúpulos, condenados sem crimes e ladrões nos carregando para o fundo d’um poço sem fim. Simplesmente não entendo os aplausos que soam como fúrias sobre mim.
Procuro guardar bem guardado os sentimentos delicados para que ao menos isso ninguém roube de mim.
Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
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Imagem enviada pela autora.