Lá está, na beira da rodovia, o vendedor ao lado do filho a ocupar dois tamboretes, a carroça de mão cheia de amendoim, a cobertura para protegê-los do sol. Devem se instalar de manhã cedo, indo até quando há movimento de veículos para lá e para cá. Ali ficam o dia inteiro, o amendoim exposto, a espera de comprador. Não é difícil calcular que, ao se retirar, contando o dinheiro obtido da venda, o vendedor/pai se depare com uma quantia ínfima, que, para seus olhos, é o suficiente para alimentar a família por dois ou três dias. É admirável o esforço desse homem, cujo nome a gente não sabe, como é o de tantas outras pessoas que, de barraca com cobertura, se instalam nas margens da rodovia, a vender manga, coco, mangaba, caju, se alimentando de seu próprio produto, três mangas por um real, uma lata de mangaba por quinze reais, etc. e etc.
São pessoas que, aproveitando o final de semana, ou os feriados natalino e do ano novo, se fincam na beira da estrada, para vender a produção de fruta de seus quintais/sítios, a preços inferiores aos do mercado e da feira livre, na busca de uns trocados a mais, a fim de tocarem a vida para a frente naqueles dias com a folga de algum pouco dinheiro no bolso. São homens e mulheres, gente nova e adulta, cujo esforço ali marca presença. São, igualmente, brasileiros cujo nome não aparece nas crônicas sociais, nem em página alguma de qualquer jornal ou em noticiário de rádio e de tv, nem quando morrem.
Uma vez, na feira de Itaporanga d´Ajuda, presenciei um senhor de idade a vender o seu pequeno estoque de macaxeira. Vi o cuidado como dobrou as cédulas obtidas com a venda e a alegria que estampava no rosto, talvez por poder passar no mercado e adquirir alguns parcos quilos de carne. Admirável exemplo de esforço no sentido de ganhar honestamente a vida!
Enquanto isso, do outro lado, o noticiário do lava-jato assombra pelo volume de dinheiro desviado, arrastando para a lama nomes que a Pátria tinha como deuses, dando realce ao extraordinário volume de recursos apoderados, traduzido em milhões e bilhões de reais que deixam de ser aplicados em bens e serviços em prol da comunidade em geral para se incorporar ao patrimônio pessoal de homens públicos, além de parentes que, de um momento para outro, se tornam grandes empresários, sugadores de extraordinárias quantias decorrente do imposto que a gente paga.
É o contraste desse Brasil enorme, no qual o homem simples, anonimamente, está nas margens das rodovias a vender seu produto e os grandes, aqueles que deveriam zelar pelo erário público, estão, agora, alguns nas prisões ou em liberdade, com o peso de acusações que, de deuses que eram, como a gente acreditou, tiveram a máscara retirada, deixando surgir a verdadeira faceta de ladrões, que, com muita lábia, enganaram o eleitorado por tanto tempo, mas não pela vida inteira. Cadeia para essa corja ainda é pouco. (14 de janeiro de 2017)
Obs: Publicado no Correio de Sergipe
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.