Chegou a vez de o Oriente merecer o lugar de destaque antes ocupado pelo Ocidente. A liderança mundial dos EUA vem sendo minada pela ascensão econômica da China, da Rússia e da Índia. E, como sabemos, o sonho europeu se desvanece desde a crise financeira de 2008.
Finda a Guerra Fria, em 1989, os EUA se apoderaram da hegemonia global, com supremacia econômica, bélica, tecnológica e ideológica. Hoje, entretanto, o mundo é multipolar. O peso dos países ocidentais na economia do planeta é de 56%. E, pelo andar da carruagem, em 2030 será de apenas 25%. Em menos de 15 anos, o Ocidente perderá mais da metade de sua hegemonia econômica.
Isso poderá resultar em mais paz para a humanidade, já que os EUA não terão fôlego para se arrogar em polícia do mundo. Em sua campanha eleitoral, Trump prometeu fazer soar o toque de recolher e trazer de volta aos quartéis de seu país as tropas espalhadas mundo afora.
As nações ocidentais cometem erros no combate ao terrorismo. Querem erradicá-lo adotando o mesmo método: a força bruta. Fracassaram no Iraque (2003), na Líbia (2011), no Afeganistão (2012) e, agora, na Síria, onde se unem à Arábia Saudita, Turquia e Qatar para apoiar os terroristas sunitas no intuito de derrubar Bachar El Asad, apoiado pela Rússia e o Irã.
A China, para se afirmar como potência mundial, cedo ou tarde terá que encarar sua mais forte contradição, a de um Estado comunista autoritário que administra uma implacável economia capitalista. Terá que decidir entre a crescente acumulação do lucro obtido com a sua mão de obra barata, o que dilata a desigualdade social, ou enfrentar essa disparidade, investir em projetos sociais e reduzir seu crescente processo acumulativo.
Desde o fim da Segunda Grande Guerra, os EUA saíram vitoriosos apenas na Guerra Fria, com a derrubada da União Soviética. Fracassaram no Vietnam (1975), em Cuba (1961), na Nicarágua sandinista (1979), no Afeganistão, no Iraque e na Somália (1994). Como no conflito bíblico entre Davi e Golias, nem sempre o mais forte ganha.
As nações ocidentais ainda ressentem a crise financeira de 2008. A democracia perde credibilidade. A política da antipolítica ganha adeptos e espaços. A unidade europeia é ameaçada pelo “Brexit” e ocorre a ascensão da direita e da xenofobia nas disputas eleitorais. Valores e instituições entram em crise e geram medo, ressentimento e ódio.
Enquanto Trump vence a eleição graças ao discurso anti-Wall Street e anti-mídia, o “não” ao tratado de paz, entre guerrilha e governo, ganha na Colômbia, e golpes de Estado derrubam presidentes legítima e democraticamente eleitos em Honduras, Paraguai e Brasil.
O velho retorna com cara nova. A falta de esperança no horizonte suscita o desespero. Apenas o papa Francisco aponta luz no fim do túnel. Mas há que percorrer o túnel.
Obs: Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros.
Copyright 2017 – FREI BETTO – Favor não divulgar este artigo sem autorização do autor. Se desejar divulgá-los ou publicá- los em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, entre em contato com – MHGPAL – Agência Literária ([email protected])