dom seb crise de civilização

[email protected]
domsebastiaoarmandogameleira.com

(Breve reflexão)

Sabemos e sentimos, na própria pele, que o mundo experimenta hoje profunda crise de civilização. No Brasil, o fenômeno se agrava pela rapidez como passamos de país rural a país prevalentemente urbano, em sessenta anos apenas, processo que a Europa fez em séculos. A crise provoca, naturalmente, instabilidade de estruturas de convivência social, de valores e de relações, trazendo-nos à beira do estado de “anomia”, do qual o clássico da Sociologia, Durkheim, tratou magistralmente. Por toda parte há sentimentos de insegurança e de medo, e este é sempre mau conselheiro. Em política, percebe-se um deslocamento no sentido da direita, do fechamento de fronteiras e até da guerra; na sociedade em geral, cresce a agressividade e a violência, que chegam bem perto de nós, nos assaltos de rua e de estradas, nos conflitos da bandidagem, nas batalhas nas cadeias; no comportamento das instituições e das pessoas agrava-se a tendência à intolerância e ao autoritarismo, até em instituições que até há pouco eram vistas como tolerantes, capazes de conviver em diversidade e respeitosas das diferenças, pensemos, por exemplo, no “golpe” do impeachment no Brasil e nas “imposições legislativas” que o têm seguido. Quando se trata de organizações religiosas, pode haver um perigo a mais. Essas têm a possibilidade de chegar até o interior das pessoas, a sua consciência e “prendê-las” por dentro, disso há casos patéticos na história humana; pode violentá-las, como se deu na Inquisição com os chamados “hereges”; pode até pressioná-las, excluí-las e matá-las, moral e fisicamente.  Além disso, atribuem-se falar e agir em nome da divindade, como “vigários” de Deus. “Vigário” é quem faz as vezes de outrem, quem o representa. Quando se chega a esse nível, quebram-se as fronteiras entre o Absoluto e o relativo, entre o Transcende e as mediações contingentes, entre o Deus vivo e verdadeiro e os ídolos, caricaturas suas.

Quem sabe, neste clima social de hoje em dia, talvez seja útil refletir sobre três manifestações vindas de procedências bem distintas:

A primeira, de LAURENTINO GOMES, historiador, autor do livro “1808 – Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil”, livro sobre a vinda de Dom João VI e sua corte para o Brasil, São Paulo, 2007. Fala, na página 134, sobre recomendações oficiais de vigilância da parte de autoridades, em 1798, no Brasil:

   “Quem ousasse expressar opiniões em público contrárias ao pensamento vigente na corte portuguesa corria o risco de ser preso, processado e, eventualmente, deportado. Imprimi-las, então, nem pensar. Até mesmo reuniões para discutir ideias eram consideradas ilegais”.

A segunda, de Frei Betto, em artigo publicado em blog:

“Quase todos os líderes, sejam eles políticos, religiosos ou empresariais, preferem que seus subordinados abdiquem da consciência crítica. E ainda que tenham opinião diferente, tratem de omiti-la. O peixe morre pela boca… Daí, o fenômeno degradante da humilhação voluntária. Para não perder prestígio, manter a função ou se julgar bem vistos aos olhos do chefe, muitos abaixam a cabeça e exibem os fundilhos. Qualquer crítica é tida como desvio ideológico, heresia, conspiração ou traição”.

A terceira, de Papa Francisco, em entrevista ao jornal “El País”:

  “Todos têm direito de discutir, e quem dera discutíssemos mais, porque isso nos burila, nos irmana. A discussão irmana muito. A discussão com bom sangue, não com a calúnia e tudo isso…”

Obs: O Autor é Bispo Emérito da Diocese Anglicana do Recife
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB….

Imagem  enviada  pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]