Padre Beto 1 de fevereiro de 2017

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Em 1938, a família Redlich foge da Alemanha e se instala no Quênia, na África. Naquela terra totalmente estranha, o advogado Walter Redlich passa a trabalhar numa fazenda, enquanto sua mulher Jettel, filha de uma família burguesa, tenta se adaptar à nova vida. Regina, a filha do casal, cresce e aprende a língua e os costumes locais, encontrando no cozinheiro Owunor um grande amigo. Quando a segunda guerra mundial está acabando, Walter recebe uma proposta para atuar como juiz em Frankfurt. Depois de tantos anos em que aprenderam a amar o novo país, Jettel e Regina começam a duvidar se devem ou não voltar para a Alemanha. A bela produção cinematografia “Lugar Nenhum na África” de Caroline Link nos faz refletir sobre nossas limitações e condicionamentos culturais e nos ensina que o ser humano caminha sempre para uma interação cultural que talvez, no futuro, nos permita o surgimento de uma verdadeira humanidade.

Segundo George Simmel, a vida busca sempre expansão, reprodução, elevação e, por último, a superação da mortalidade. A vida humana não foge à regra. Nós seres humanos fazemos de nossa vida um desenvolvimento, ou seja, um processo de constantes conquistas e realizações em busca de um estágio melhor de vida. Neste processo nos encontramos quase sempre em conflito com nosso meio ambiente que nos impõe obstáculos e limites. Na busca de aumentarmos ou prolongarmos os momentos felizes somos levados a superar os obstáculos e ultrapassar os limites do cotidiano. Sem dúvida alguma, muitos se acostumam com os problemas que possuem e se conformam com a vida. Mas, no fundo, o ser humano possui a vocação de se libertar da mediocridade e crescer. Neste movimento em busca de desenvolvimento acabamos dividindo nossa caminhada em fases. A nossa vida é única, porém, ao dividi-la em etapas, ganhamos a nítida impressão de que ela não é estática. Entender a vida em fases é o mesmo que admitirmos o nosso crescimento, a nossa luta contra a estagnação. Uma fase da vida expressa um estágio de nossa caminhada que possui determinadas características, determinado clima ou é marcado por um determinado acontecimento. “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu” (Ecl. 3, 1). A chamada primeira fase de nossa vida (infância) é vital; nela o ser humano vive seus primeiros contatos com o mundo e com os adultos que o acompanham. Apesar de não saber ler ou escrever, a criança compreenderá cada gesto e cada emoção emanados pelos outros seres humanos. A primeira impressão da vida marcará a forma do ser humano encarar o restante dela. Em uma fase posterior, o adolescente amplia suas experiências com seu universo social realizando a passagem (normalmente conflitiva) para a idade adulta. Com a transição para a vida adulta se fortalece a independência, autonomia e liberdade de escolhas do ser humano. Outras fases virão e muitas destas estabelecidas pelo próprio ser humano. A vida, porém, não é fragmentada. Todas as fases carregam marcas das anteriores e acabam construindo as futuras. Cada fase deve ser vivida dentro de suas próprias circunstâncias. “A primeira condição para ser alguma coisa é não querer ser tudo ao mesmo tempo” (Tristão de Ataíde). Assim, o segredo da vida consiste na tentativa de viver intensamente a fase que temos no agora. Muitas vezes, corremos o risco de viver antecipadamente emoções de fases que esperamos que aconteçam. “O homem que sofre antes de ser necessário sofre mais que o necessário” (Sêneca). Outras vezes, queremos que uma nova fase chegue logo e acabamos deformando o momento presente com ansiedade e falta de atenção. “Pensando em conseguir de uma só vez todos os ovos de ouro que a galinha poderia lhe dar, ele a matou e a abriu apenas para descobrir que não havia nada dentro dela” (Esopo). Ao vivenciarmos uma fase de nossa vida com intensidade, estamos preparando uma outra. Por isso o viver deve se concentrar no momento atual através de uma interação ativa com aquilo que ele nos oferece. “… E compreendi que não há felicidade para o homem a não ser a de alegrar-se e fazer o bem durante (cada fase de) sua vida” (Ecl. 3, 12).

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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