Um Natal Diferente
A grande festa está perto, e o Senhor ainda não abriu os céus sobre Negras. Mas o povo não murmura contra Moisés. Os meninos acham que o Natal é dia de receber presentes, mas quem é experimentado na fé dispensa, sabendo que Jesus veio com as mãos vazias. O que ele fez foi padecer com a gente. Deitou-se no desconforto sem pedir nenhuma regalia. E Deus, seu Pai, não estava aí para poupar seu Filho. Nem na hora da sede mais furiosa não apareceu um alívio.
Assim não deu certo para o padre celebrar algum milagre antes de sua despedida no fim do ano. Mas para que milagre melhor do que este: “ESTE POVO AINDA ESPERA TUA VINDA?”, como foi cantado na missa da festa. Com brilho nos olhos disseram: “Quando Deus quer é num instante!” Realmente a festa não ficou em branco, mas foi um Natal diferente.
Quando o sertão estava morrendo de sede,
Eis que nasceu o Salvador
Perto do povoado de Negras
No rancho abandonado de Dona Ota.
E chegaram para adorar, fatigados,
Três reis magos, aliás, magros,
Com coroa de couro na cabeça.
O primeiro veio com carro de boi
E abriu um tambor cheio d´água.
“Eis aqui o resto que tem no açude”.
O rei se ajoelhou
E ofereceu a vara de tanger
Para o menino governar as nações
Com cetro de Pau Ferro.
O segundo rei chegou com jumento
E desceu quatro latas.
“Eis o resto que tem na cacimba”.
Ajoelhou-se diante do menino
E ofertou sua montaria:
Talvez vão ter que fugir daqui.
O terceiro rei,
Idoso e envergado,
Chegou com galão nas costas:
“Eis o resto que tem na cisterna”.
Ajoelhou-se diante do Cordeiro
E ofertou o madeiro do galão
Para o menino treinar
pro caminho do Calvário.
Na véspera de Natal de 1983
Obs: O autor é Frade Franciscano, nasceu na Alemanha em 1940.
Chegou ao Brasil como missionário em 1964. Depois de completar os estudos em Petrópolis atuou no Piaui e no Maranhão. Exerceu trabalhos pastorais nos anos 80 em meio a conflitos de terra. Desde 1995 vive em Teresina no RETIRO SÃO FRANCISCO onde orienta pessoas na busca da vida espiritual.
Imagens enviadas pelo autor.