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Um jovem vivia na cidade grande, mas não se sentia atraído pelas diversas opções que esta lhe oferecia. Para ele, a vida parecia ter um sentido mais profundo. Perdas significativas e algumas desilusões o levam a severas práticas espirituais, abandonando completamente sua vida e afetando as pessoas que o rodeiam. Seu irmão, professor universitário de Filosofia, e sua noiva, atriz e filha de uma empresária de televisão, acompanham sua exótica viagem em busca de um caminho de libertação em um templo zen nas montanhas. De Diego Rafecas, o filme “O Buda” possui uma curiosa história que parece ser um perfeito círculo, no qual a essência da vida se encontra nas coisas simples que a existência nos oferece.

Principalmente nos séculos I e II da era cristã, filósofos gregos e romanos desenvolveram todo seu pensamento para o que eles chamavam de “cuidado de si”. A necessidade de desenvolver uma “arte de viver bem” possuía como finalidade não somente o próprio eu como também a cidade, ou seja, todo o universo humano. “O segredo da vida está na arte” (Oscar Wilde). Ocupar-se consigo mesmo tinha por finalidade última o espaço comum para todas as pessoas, a cidade, mas tinha como início a própria pessoa, o sujeito. Em outras palavras, o objeto do cuidado era o eu, mas a finalidade era a cidade, onde o eu está presente a título apenas de elemento. Nesta época a cidade inter-relacionava a relação de si para consigo. Nesta “arte de viver bem” aprofundada por filósofos como Platão entende-se “cuidar-se” como uma série de atividades concretas. O primeiro passo é um voltar-se para si, o famoso “convertere“, a pouco vivenciada metánoia. Ninguém consegue desenvolver uma arte de bem-viver e, portanto, uma satisfação na vida, se não se torna para si próprio um verdadeiro objeto de análise. O ato de conhecimento, da atenção, do olhar, a percepção que se pode ter em relação a si mesmo, estar atento a si e constantemente se autodescobrir é o início de um caminho de equilíbrio e possível satisfação. Viver intensamente significa conhecer-se melhor e, portanto, procurar focar em si mesmo analisando como se está vivendo, qual a origem dos sofrimentos e das alegrias. O segundo passo é adquirir um hábito que parece ser óbvio, mas, na verdade, nem sempre é: o hábito de tratar-se, cuidar-se de si. Ao me conhecer melhor devo desenvolver minhas potencialidades, como também trabalhar os aspectos que são para mim e para os outros inconvenientes e não desejáveis. Juntamente com o tratar-se de si está o reivindicar para si mesmo. Fazer valer os seus direitos e buscar conquistar o que realmente nos leva à satisfação de viver são passos concretos e fundamentais que dão o verdadeiro sentido à nossa existência. Outro aspecto do “cuidar-se de si” é a autovalorização. A esta pertence a consciência de que somos algo sagrado, uma obra divina e, portanto, cada ser humano deve honrar-se, respeitar-se e se fazer respeitar. “Não cometer nenhum ato vergonhoso nem na presença de outros nem em segredo. A tua primeira lei deve ser o respeito a ti mesmo” (Pitágoras). Por fim, um aspecto fundamental da arte do bem-viver é o domínio e soberania, ser mestre de si. As experiências boas e ruins devem nos ensinar a ter o controle sobre nós mesmos. Controle aqui significa domínio, saber utilizar suas próprias forças e saborear seu próprio ser com equilíbrio. “A felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos do que temos” (Thomas Hardy).

“Cuidar-se de si” significava para os filósofos gregos e romanos filosofar. A prática de filosofar consistia em cuidar da alma, da “energéia“, da anima, da vitalidade de viver. O objetivo de filosofar não era um conhecimento erudito, mas a situação concreta de bem-estar. Pelo menos depois de Platão, a filosofia, ou seja, a prática de auto-análise e o cuidado de si mesmo, deveria existir em todos os momentos da vida. A filosofia para os jovens consistia em uma preparação e para os idosos uma forma de rejuvenescer, isto é, de desprender-se do tempo. “Quando se é jovem, não se deve hesitar em filosofar e quando se é velho não se deve deixar de filosofar. Nunca é demasiado cedo nem demasiado tarde para ter cuidados com a própria alma. Quem disser que não é ainda ou não é mais tempo de filosofar assemelha-se a quem diz que não é ainda ou não é mais tempo de alcançar a felicidade” (Epicuro).

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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