E de repente dezembro desabrochou.
E foi esquentando o perfume das orquídeas e a música iluminou os esforços de se dar as mãos.
Um borbulhar de esperanças começou a rondar os dias já coloridos do verde e vermelho importados para os jingles natalinos.
O brilho no presente, o artifício dos fogos, as pontas de cigarro queimando a noite,
os brindes em taças espumantes e a alegria fértil de invenções morrendo na praia das novas esperanças:
como se a salvação pertencesse a dezembro.
É a festa da solidariedade que dura o tempo partido por cada um.
E ela caminhará pelos morros, debaixo das marquises, nos asilos dos esquecidos,
perdoará os mortos e abolirá os olhos apagados dos vivos.
Caminhará em sandálias franciscanas, descerá em campos de futebol,
se anunciará em comboios de quem está no mar mas nunca pensou em ensinar a pescar.
E durará até romperem os novos dias com a maquiagem dourada das crenças cristãs sendo abandonadas nas esquinas,
exatamente quando não mais servirem a este ano.
Então não percamos as horas.
Façamos de hoje os nossos novos tempos.
Quem sabe nos descobriremos fazendo de março ou de junho ou de setembro outros e novos natais!
Obs: interpretado por Carlos Eduardo Valente