Se pensarmos que somos melhores que eles
ou que estamos certos e eles, errados
ou que somos ungidos de Deus e eles, deserdados
então continuará a ser como tem sido:
nós e eles armados, a combater-nos até que
sejam tantos os mortos que nos forcem a uma trégua
durante a qual cogitaremos como exterminarmo-nos
melhor e de vez, quando ela cessar.
No entanto, se pensarmos que eles são tão bons
quanto nós, talvez até um pouco melhores
ou que estamos todos igualmente certos ou errados
ou que, bem pesadas as coisas, não faria sentido
que uns fossem ungidos e outros não, a menos que
houvesse tantos deuses quantos povos há;
então poderemos mudar o que sempre tem sido,
e mesmo que não cheguemos ao paraíso – porque
afinal nós e eles somos não mais que humanos –
pelo menos iremos todos nos sentir melhor
e nem os nossos filhos nem os deles precisarão
estar armados e combaterem-se até que sejam
tantos os mortos que forcem todos a uma trégua.
Obs: Texto retirado do livro do autor – É Lenta a Palavra Tempo –