Mario de França Miranda 15 de janeiro de 2017

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Entrevista exclusiva com Padre Mário França Miranda: ganhador do Prêmio Ratzinger de Teologia 

O padre jesuíta Mário de França Miranda é um dos vencedores da edição 2015 do Prêmio Ratzinger de Teologia, que divide com o teólogo libanês Nabil e-Khoury.

“A América Latina deu à Igreja o primeiro Papa não europeu e, com isto, a Igreja Católica ofereceu uma nova e muito eloquente prova da sua catolicidade. Já a importância do Oriente foi várias vezes repetida pelo Papa São João Paulo II, que amava dizer que a Igreja Católica deve respirar com dois pulmões: o Oriente e o Ocidente”, explicou o arcebispo Luis Francisco Ladaria Ferrer, membro do Comitê científico da Fundação Ratzinger.

Doutor em teologia pela Universidade Gregoriana, em Roma, padre Mário de França é professor de teologia na PUC-Rio e autor de diversos artigos e livros de teologia. Leia a entrevista exclusiva feita pelo jornal Testemunho de Fé com o sacerdote:

Testemunho de Fé (TF) – O que é o Prêmio Ratzinger de Teologia?

Padre Mário França Miranda – A Fundação José Ratzinger foi fundada para difundir o pensamento do teólogo José Ratzinger. Por falta de tempo, ele deixou de ensinar e escrever livros quando se tornou cardeal, e muito menos ainda, depois de eleito Pontífice. Mas, Bento XVI tinha todo um acervo, um material bibliográfico muito rico, que merecia ter uma difusão maior. A fundação nasceu com esse propósito. Fiquei sabendo que ele renunciou aos direitos autorais completamente, mas que a metade do valor com a venda dos livros fosse doada aos pobres e a outra metade pudesse ser usada para incentivar os objetivos da fundação. Para propagar o seu pensamento, a fundação começou a realizar eventos em muitos países, inclusive no Brasil, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Também começaram a conceder anualmente um prêmio para dois teólogos que difundem o pensamento da Igreja e, naturalmente, conhecem o pensamento de José Ratzinger.

TF – Como foi a programação?

Padre Mário França – Recebi o prêmio em Roma na Universidade Lateranense, onde houve uma série de conferências e onde foi inaugurada a Biblioteca Ratzinger. Essa espécie de acervo existe em muitos lugares. Em Brecha, por exemplo, tem o Instituto Paulo VI, que recolhe tudo que ele fez. No Brasil tem o de Dom Helder Câmara, em Recife. Durante a entrega do prêmio, houve o lançamento da obra completa de Bento XVI, uma edição crítica, séria, com introdução e notas, e também um livro sobre a cristologia, isto é, tudo o que ele escreveu sobre Jesus Cristo. Enfim, vai ser uma cerimônia simples.

TF – O senhor conhecia o outro teólogo que recebeu o prêmio?

Padre Mário França – Não conhecia. Mas é um professor leigo da Universidade de Beirute e tem uma boa bagagem de conhecimento sobre Bento XVI. Até agora, os escolhidos eram teólogos do Primeiro Mundo. Agora se abriu para a América Latina e para o Oriente Médio, que é uma grande abertura. E espero que no futuro a África e a Ásia também sejam chamadas, reconhecendo o mérito de seus teólogos.

TF – Porque o senhor foi escolhido para ganhar o prêmio?

Padre Mário França – Tenho 14 livros publicados sobre teologia e mais de cem artigos publicados com vários temas. Conheço as obras de Ratzinger, e por várias vezes cito seus pensamentos em alguns artigos. Ratzinger tem um pensamento muito rico, de peso. É um reconhecimento de quem difunde a fé cristã. Se fosse mesmo chamar todos que merecem, teria que haver muitos prêmios. Eu não me considero nem de longe o melhor. Há dezenas de teólogos na minha frente, principalmente na América Latina, que dedicaram a vida ao ensino da teologia, às vezes em condições até mais difíceis que a minha.

TF – Quais foram os critérios para a escolha?

Padre Mário França – Um amigo jesuíta que estava na reunião de votação disse que havia outros nomes, mas certamente quiseram escolher alguém da América Latina e do Oriente Médio, porque teólogos bons nós temos muitos, melhores do que eu, muitos mesmo. São pessoas que realmente levam a sério. É um trabalho duro, intelectual, cansativo e desgastante. O próprio Bento XVI dedicou grande parte da vida a esse trabalho, ensinando, escrevendo livros, orientando pessoas e teses. É muito importante para a Igreja quando pessoas se preocupam na difusão da fé, com a linguagem de hoje, sabendo captar as inquietações, questões e os problemas, mas também que saibam dialogar com a sociedade. Isso implica que temos que ler outras coisas, estar a par do que está acontecendo para dar uma palavra também a partir da fé cristã.

TF – Quem fez a entrega dos prêmios?

Padre Mário França – O Papa Bento XVI está muito velhinho, não sai de casa. No primeiro ano, quem fez a entrega foi o Papa Francisco. Mas agora ele está muito ocupado com uma viagem marcada para a África agora dia 25. Quem fez a entrega foi o Cardeal Gerhard Ludwing Muller, o prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Ele inclusive foi o meu colega na comissão teológica; eu o conheço já de anos, e depois foi feito bispo, e cardeal por Bento XVI para chefiar a congregação. De fato, ele representou o Papa.
(retirado de Arq.Rio Noticias)
Por: Symone Matias e Eduarda Rodhe

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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