Djanira Silva 15 de janeiro de 2017

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Já é tarde e não consigo dormir. À noite são passos vagarosos, passos de um velho cansado. Pela manhã, são passadas de criança, correndo e pulando. Medrosa e desconfiada espero que se acalme e entre no ritmo. Há um bom tempo ele saiu do compasso. Só então percebi que existia. Antes era apenas uma referência, – te amo de todo o coração – é por ti que ele bate. Agora, está aqui, bem aqui dentro do peito me assustando com seus desmantelos.

O silêncio sumiu, a tranquilidade de outrora é apenas lembrança. Durante o dia ele oscila, ora apressando, ora lento. Não preciso de emoções para que isto aconteça. Não é somente gente que caduca, este músculo forte e corajoso que atravessou comigo vários caminhos ajudou-me a sobreviver às alegrias e às tristezas, está perdendo o tino. Tenho que conviver com o relógio velho que não tem conserto. Pára, não pára, eis a questão. Que há de parar eu sei. Mas assim deste jeito disparando e parando que nem um louco é demais. Vive me avisando. Parece um patrão mal satisfeito dando-me aviso prévio de vez em quando. É um amigo que só serve quando silencioso. Sentir sua presença incomoda, mete medo. Sempre foi bem comportado. Agora, depois de velho precisa dizer a toda hora que ainda está vivo. Não adiantam os conselhos médicos que nunca sigo. Caminhar, eles dizem. Ora, se caminhar aí é que ele vai se danar mesmo. Não tenho tempo para mais nada. É o tempo todo ligada nele. Ouvindo ou procurando ouvir. O que fazer, meu Deus com este coração desgovernado?

Obs: Texto do livro da autora –Morte Cega –

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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