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Meus queridos amigos

Quando se vai a Roma, uma das visitas mais impressionantes é a visita ao Coliseu. O Coliseu que hoje está em ruínas, lembra muito um estádio de futebol. Redondo, com arquibancadas, e no centro, espaço amplo para os espetáculos. Só que no Coliseu o espetáculo não era futebol: eram gladiadores.

Dois homens se apresentavam com gládio — meio espada, meio facão — capacete e escudo. Dos dois, pelo menos, um tinha que cair morto no estádio. Oitenta mil pessoas enchiam o Coliseu para assistir a luta dos gladiadores. Os dois se apresentavam diante de César Augusto e diziam, em latim, que traduzido não conserva a mesma força: Ave César! Morituri te salutant! (Salve César! Os que vão morrer te saúdam!)

Tudo isso parece barbaridade superada. Hoje temos partidas de futebol e se é verdade que algumas partidas deixam jogadores sangrando e, as vezes aleijados para sempre, esporte por esporte, o futebol é incomparavelmente mais brando. Mas isto não quer dizer que estejamos menos bárbaros.

As guerras continuam. Um povo se arma de um lado, o outro do outro lado. Quem consegue matar mais, destruir mais, arrasar mais, se convence de que venceu, de que provou que tem razão, que a justiça está do seu lado e até que foi protegido por Deus.

Houve tempo em que, na guerra, ataques e mortes eram só de fronteira a fronteira, e mortos e feridos eram todos soldados. Hoje, a pretexto da guerra total, as cidades são arrasadas. Morre mais quem estava sem arma, longe das fronteiras, do que propriamente soldados com armas nas mãos. E jamais é excesso lembrar que Rússia e Estados Unidos tem, em depósitos, armas nucleares em quantidade vinte vezes maior do que o necessário para liquidar a vida na Terra.

Quando o Cristianismo começou a multiplicar-se, o Coliseu foi aproveitado para outro espetáculo ainda mais terrível. O Coliseu se enchia, transbordava, para ver cristãos jogados as feras. Será que este espetáculo foi de todo superado em nossos dias? O fato é que há cristãos sofrendo por amor da justiça. Isto, sem falar na lama de criaturas entregues as feras.

Os imperadores romanos passaram, o Império desapareceu, o Coliseu está em ruínas e, de fato, o sangue dos mártires foi, é e será sementeira de cristãos.
(Quarta-feira, 14.12.1977)

Obs: No início de mais um ano, há apenas alguns dias da comemoração do Dia Universal da Paz, vale relembrar essa crônica de Dom Helder, lida em seu programa de Rádio Um Olhar Sobre a Cidade, há quatro décadas.

.Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
. Ver AUTORIZAÇÃO do IDHEC no item  OBRAS LITERÁRIAS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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