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As Aflatoxinas são substâncias produzidas por diversos fungos (mofo) em especial pelo Aspergillus Flavus. São substâncias orgânicas relativamente simples pois possuem em sua constituição átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. Elas foram descobertas na década de 1960 quando milhares de aves, principalmente perus, morreram no Reino Unido e a causa era desconhecida. Após intensas investigações, descobriram nas aves graves alterações no fígado e todas tinham sido alimentadas com ração à base de farinha de amendoim mofada originária do Brasil.

Percebam que escrevi “Aflatoxinas” no plural e não “Aflatoxina”. O problema é que o fungo não produz apenas uma Aflatoxina, produz várias. As principais Aflatoxinas são as: Aflatoxina B1, Aflatoxina B2, Aflatoxina G1 e Aflatoxina G2. As letras B e G são originárias do fato de que essas substâncias absorvem luz ultravioleta que não enxergamos e emitem intensa luz visível azul (B de blue) e verde (G de green).

As Aflatoxinas são carcinogênicas, dão origem a diversos tipos de câncer, principalmente o de fígado e são tóxicas. Dentre as Aflatoxinas, a Aflatoxina B1 é de longe a mais cancerígena e tóxica, sendo considerada a substância natural mais cancerígena conhecida pelo homem.

O problema com a Aflatoxina B1 é que ela é produzida pelo fungo e é altamente estável, resiste até perto de 3000C e não é muito solúvel em água. O fungo cresce em condições de calor e umidade, dois fatores facilmente encontrados no nosso país. Os fungos são contaminantes quase que impossíveis de serem evitados, contaminam quase tudo e para azar nosso, adoram cereais e diversos vegetais constituintes de nossa dieta como feijão, milho, amendoim, leite e seus derivados e até cebola.

Além de já ser bem comprovado na literatura científica a participação da Aflatoxina B1 na formação e desenvolvimento do câncer de fígado, o hepatocarcinoma, surgem constantemente indícios de sua relação com diversos outros tipos de câncer como os gastrointestinais, vesícula biliar e até pulmão. Outros fatores podem agravar o quadro no caso do hepatocarcinoma como os diversos tipos de hepatites e a cirrose hepática.

A Aflatoxina B1 consegue danificar o nosso DNA justamente no trecho onde tem a informação para produzir uma proteína chave no ciclo celular e na proteção do próprio DNA, é a proteína P53, chamada de “guardiã do genoma”. Os organismos vivos expostos às altas doses de Aflatoxina B1 passam a produzir a proteína P53 defeituosa, mutante, que não exerce corretamente as suas funções e dessa forma permite a reprodução descontrolada das células dando origem ao tumor.

Mas o que fazer diante de um quadro desse? Os pesquisadores travam diariamente uma guerra sem tréguas para descobrir formas de anular os efeitos de substâncias danosas como as Aflatoxinas e grandes avanços já foram descobertos. Ainda tem muita coisa pela frente, mas os resultados são bons. Diversos estudos são publicados constantemente buscando elucidar as etapas de ação das Aflatoxinas e meios de bloquear seus efeitos. Hoje já são testadas algumas substâncias para bloquear a ação das Aflatoxinas e até impedir a reprodução desenfreada das células malignas.

Também não há motivo para pânico, a presença das Aflatoxinas nos alimentos é monitorada pela Vigilância Sanitária. Uma vez detectada a presença dessas substâncias em quantidades proibidas pela legislação o alimento é tirado de circulação, descartado e não serve nem para alimentação animal. Enquanto a solução definitiva não vem, algumas medidas preventivas podem ser seguidas por todos. A principal é evitar totalmente os alimentos mofados, inclusive não é correto cortar o pedaço mofado e consumir o resto pois uma quantidade significativa do mofo, invisível aos nossos olhos, poderão estar presentes.

Outra medida interessante é a ingestão de vegetais verdes frescos. A clorofila e seus derivados, que constituem o pigmento verde das plantas, tem comprovado que consegue interagir com a Aflatoxina B1 antes da ação dela nas células, bloqueando dessa forma seus efeitos maléficos. A forma de ação da clorofila bloqueando a Aflatoxina B1 ainda não é bem entendida, mas os estudos estão avançando e já aparecem algumas pistas em trabalhos publicados.

Buscamos com esse pequeno texto fazer um alerta sobre esse grave problema que é a contaminação dos alimentos pelas Aflatoxinas produzidas pelos fungos, mas é sempre bom lembrar que não existe profissional mais capacitado para nos orientar com relação à qualquer dúvida com relação à nossa saúde do que o médico.

Obs: O autor é  Professor de Físico-Química
Dep. de Química-UFRPE

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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