1 de janeiro de 2017
As Aflatoxinas são substâncias produzidas por diversos fungos (mofo) em especial pelo Aspergillus Flavus. São substâncias orgânicas relativamente simples pois possuem em sua constituição átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. Elas foram descobertas na década de 1960 quando milhares de aves, principalmente perus, morreram no Reino Unido e a causa era desconhecida. Após intensas investigações, descobriram nas aves graves alterações no fígado e todas tinham sido alimentadas com ração à base de farinha de amendoim mofada originária do Brasil.
Percebam que escrevi “Aflatoxinas” no plural e não “Aflatoxina”. O problema é que o fungo não produz apenas uma Aflatoxina, produz várias. As principais Aflatoxinas são as: Aflatoxina B1, Aflatoxina B2, Aflatoxina G1 e Aflatoxina G2. As letras B e G são originárias do fato de que essas substâncias absorvem luz ultravioleta que não enxergamos e emitem intensa luz visível azul (B de blue) e verde (G de green).
As Aflatoxinas são carcinogênicas, dão origem a diversos tipos de câncer, principalmente o de fígado e são tóxicas. Dentre as Aflatoxinas, a Aflatoxina B1 é de longe a mais cancerígena e tóxica, sendo considerada a substância natural mais cancerígena conhecida pelo homem.
O problema com a Aflatoxina B1 é que ela é produzida pelo fungo e é altamente estável, resiste até perto de 3000C e não é muito solúvel em água. O fungo cresce em condições de calor e umidade, dois fatores facilmente encontrados no nosso país. Os fungos são contaminantes quase que impossíveis de serem evitados, contaminam quase tudo e para azar nosso, adoram cereais e diversos vegetais constituintes de nossa dieta como feijão, milho, amendoim, leite e seus derivados e até cebola.
Além de já ser bem comprovado na literatura científica a participação da Aflatoxina B1 na formação e desenvolvimento do câncer de fígado, o hepatocarcinoma, surgem constantemente indícios de sua relação com diversos outros tipos de câncer como os gastrointestinais, vesícula biliar e até pulmão. Outros fatores podem agravar o quadro no caso do hepatocarcinoma como os diversos tipos de hepatites e a cirrose hepática.
A Aflatoxina B1 consegue danificar o nosso DNA justamente no trecho onde tem a informação para produzir uma proteína chave no ciclo celular e na proteção do próprio DNA, é a proteína P53, chamada de “guardiã do genoma”. Os organismos vivos expostos às altas doses de Aflatoxina B1 passam a produzir a proteína P53 defeituosa, mutante, que não exerce corretamente as suas funções e dessa forma permite a reprodução descontrolada das células dando origem ao tumor.
Mas o que fazer diante de um quadro desse? Os pesquisadores travam diariamente uma guerra sem tréguas para descobrir formas de anular os efeitos de substâncias danosas como as Aflatoxinas e grandes avanços já foram descobertos. Ainda tem muita coisa pela frente, mas os resultados são bons. Diversos estudos são publicados constantemente buscando elucidar as etapas de ação das Aflatoxinas e meios de bloquear seus efeitos. Hoje já são testadas algumas substâncias para bloquear a ação das Aflatoxinas e até impedir a reprodução desenfreada das células malignas.
Também não há motivo para pânico, a presença das Aflatoxinas nos alimentos é monitorada pela Vigilância Sanitária. Uma vez detectada a presença dessas substâncias em quantidades proibidas pela legislação o alimento é tirado de circulação, descartado e não serve nem para alimentação animal. Enquanto a solução definitiva não vem, algumas medidas preventivas podem ser seguidas por todos. A principal é evitar totalmente os alimentos mofados, inclusive não é correto cortar o pedaço mofado e consumir o resto pois uma quantidade significativa do mofo, invisível aos nossos olhos, poderão estar presentes.
Outra medida interessante é a ingestão de vegetais verdes frescos. A clorofila e seus derivados, que constituem o pigmento verde das plantas, tem comprovado que consegue interagir com a Aflatoxina B1 antes da ação dela nas células, bloqueando dessa forma seus efeitos maléficos. A forma de ação da clorofila bloqueando a Aflatoxina B1 ainda não é bem entendida, mas os estudos estão avançando e já aparecem algumas pistas em trabalhos publicados.
Buscamos com esse pequeno texto fazer um alerta sobre esse grave problema que é a contaminação dos alimentos pelas Aflatoxinas produzidas pelos fungos, mas é sempre bom lembrar que não existe profissional mais capacitado para nos orientar com relação à qualquer dúvida com relação à nossa saúde do que o médico.
Obs: O autor é Professor de Físico-Química
Dep. de Química-UFRPE
