denis ressignificando

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Pense em uma das casas que morou durante alguns anos da sua vida. Ela não era segura nem bela. Ao se lembrar da casa, não lhe vêm muitas lembranças boas, pelo contrário, você gostaria que elas desaparecessem pra sempre.

Depois de algum tempo e com muita dificuldade, você consegue trocar de casa, um pouco melhor, mais arrumadinha e segura.

Os conselheiros de plantão que para tudo tem uma resposta pronta, (desconfie deles) te dirão pra apagar de sua mente os dias que viveu na casa ruim e “bola pra frente” como se fosse assim tão simples de apagarmos nossa história. Para resolver sua vida e sumir com seus traumas e dores , aperte o botão backspace do seu teclado interno e tudo ficará bem.

A nossa história, as contingências da vida e como reagimos a elas nos mostra, em parte, quem somos. Essas duas casas são nossas lembranças. É penoso acessar os nossos traumas e dores o tempo todo, na verdade, é quase insuportável.

Incansavelmente friso a importância da terapia para esses casos e para tantos outros. O psicólogo não irá te ajudar a apagar da memória a experiência de ter morado nessa casa ruim, mas poderá te ajudar a ressignificá-la dentro de você. Aos poucos conseguirá olhar as dificuldades que passou por outro prisma, ao ponto de, futuramente, atenuar o sofrimento, cicatrizar o corte e diminuir o peso ao pensar no passado.

A terapia não somente te ajudará com a casa ruim, mas também para idealizar menos a casa boa. Entender que ela não é perfeita, que tem seus buracos e rachaduras também. Toda casa precisa de manutenção, aliás, as casas que achamos bonitas só são atraentes porque alguém identificou sua deterioração (comum com o passar do tempo) e investiu tempo e esforço para a devida manutenção dela.

Existe uma grande diferença entre “morar” na casa ruim(revivendo diariamente o seu trauma) e apenas visitá-la esporadicamente.

Conhecemos saudosistas que vivem apenas de águas passadas e esquecem de viver o presente. Há os que moram somente num determinado momento triste da vida transformando o “ agora” em um tempo melancólico e sem chance para um futuro fértil. Encontramos ainda os perversos que perceberem que estamos bem, tentam “desenterrar nossos defuntos” para se protegerem e mascararem o teto de vidro alojado em suas próprias cabeças.

Devemos refletir sobre a temporalidade da nossa existência. A letra que anteriormente digitei nesse texto já não está no presente, pois este é o futuro passado. Não podemos mudar o que já foi, mas conseguimos ressignificá-lo.

Gosto do trecho de uma música cantada por Rodolfo Abrantes: “Que das minhas feridas saiam poder para curar”. Espero que através das experiências que eu e você vivenciamos durante o percurso de nossa história, possamos abrigar pessoas feridas dentro de nossas casas, que não são tão grandes e fortes como queríamos que fossem, mas podemos chamar de lar.

Obs:  O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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