1 – O SENTIDO DO ADVENTO E DO NATAL NO TEMPO
O Advento está inserido no calendário litúrgico, iniciando o Ano Litúrgico da Igreja. Embora seja costume dizer-se que o Ano Litúrgico começa no 1º Domingo do Advento, sabemos que o Ano Litúrgico não tem começo nem fim. É continuo, é o Kairoz, tempo de Deus. Apenas, por uma questão de compreensão prática situamos o Advento como início do Ano Litúrgico, tempo de preparação para a vinda do Senhor e para a celebração do Natal. A data exata do nascimento de Cristo nos é desconhecida. Sabe-se, apenas a hora, que foi de noite. O próprio ano de sua vinda é apontado nas cronologias bíblicas entre 6 e 7 da nossa era e através dos sábios vindos do Oriente, que chegaram no tempo do rei Herodes. Com relação à data do Natal, desde o século II, uma antiga tradição oriental celebrava o nascimento e adoração dos magos nos primeiros dias de janeiro, perto do solstício de inverno no hemisfério Norte, quando era celebrado o “sol invicto”, considerado pelos pagãos, dia do nascimento do sol. É possível que o cristianismo tenha adotado a data popular do “sol invicto” substituindo-o pelo “Sol da Justiça”, Jesus Cristo, ficando a data de seu nascimento para o dia 25 de dezembro.
No contexto do Kairoz, situamos duas grandes festas da Igreja: A Páscoa que é a festa das festas e o Natal, que a retoma de um modo que lhe é próprio. Assim, o Natal retoma a Páscoa, pois ambas as festas celebram o Mistério Pascal de Jesus. Não se tratam apenas de reprodução dos acontecimentos, mas de anúncio e realidade de salvação para nós, hoje, agora, realizando a memória do mistério pascal de Cristo na perspectiva de seu nascimento e manifestação. A festa do Natal celebra, faz memória, do “nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a carne”. “Neste dia começa a brilhar para nós o dia da nossa redenção” (Leão Magno). Por isso não podemos celebrar o Natal como um acontecimento isolado, pois ele está intrinsecamente ligado à Páscoa de Jesus Cristo, que sintetiza a encarnação, morte e ressurreição, ou seja, o mistério de nossa salvação. É isso que vamos refletir para prepararmos condignamente a festa do Natal, festa da encarnação de Jesus e de nossa redenção.
2 – ADVENTO, TEMPO DE PREPARAÇÃO, ESPERA E VIGILÂNCIA
“As antigas comunidades cristãs, quando começaram a celebrar o Natal, o fizeram , ao mesmo tempo, como o desdobramento da alegria pascal e como celebração do início do mistério da salvação. E assim como a festa da páscoa era preparada por um tempo de jejum e escuta da Palavra, colocaram também um tempo de preparação antes da festa do Natal.” (Liturgia em Mutirão, nº 15, pág. 47).
“A própria palavra Advento, como tantos outros termos importantes do cristianismo foi tirada do vocabulário pagão e significa chegada ou vinda. Ao longo do tempo, foi assumindo o sentido tanto do nascimento do Senhor (o Senhor veio!), quanto da preparação para este evento (o Senhor vem!) e também da espera da segunda vinda de Cristo (o Senhor virá!)”. (Liturgia em Mutirão, nº 15, pág. 48).
Por isso, a Liturgia Ocidental, nas duas primeiras semanas do Advento, acentua a espera da segunda vinda de Cristo no final dos tempos, enquanto nas duas últimas semanas coloca a ênfase na preparação para a celebração do Natal. Assim, o tempo do Advento é considerado tempo de vigilância, especialmente nas duas primeiras semanas que enfatizam a vigilância, e um dos textos que, nesse sentido, inspira a Liturgia do Advento é a parábola das virgens sábias, com suas lâmpadas acesas, lembrando o mandamento de vigiar, contada por MT 25, 1-13.
3 – SENTIDO TEOLÓGICO DO ADVENTO
“Toda celebração cristã tem uma dimensão de espera do Reino. A cada dia suplicamos na oração do Senhor:”Venha o teu reino!” E no coração da prece eucarística aclamamos: “Vem, Senhor Jesus”. Por isso é que o advento nos é dado a cada ano como sacramento da ESPERA que nos prepara para celebrar as solenidades no natal, quando ele VEIO a primeira vez “revestido de nossa fragilidade, para realizar seu eterno plano de amor”; e nos coloca na perspectiva da segunda vinda quando ele VIRÁ revestido de glória, para conceder-nos plenitude de salvação”.
Entre a primeira e a última vinda há a vinda intermediária (conf. S. Bernardo). Portanto, ele VEIO, VIRÁ e VEM agora. A liturgia do advento nos situa neste VEM, no HOJE intermediário entre o passado e o futuro, e nos impulsiona a fazer de cada AGORA um tempo de salvação.
A invocação”Vem Senhor Jesus!”, dos cantos e orações, expressa os gemidos e anseios da humanidade e de todo o universo à espera da libertação. É o grito do próprio ESPÍRITO que se une à Esposa para dizer: “Maranatá, VEM, Senhor Jesus” (1Cor 16,22 e AP. 22,20).
O Espírito é o verdadeiro precursor do Messias: ele que falou pelos profetas e que antecipou em João Batista, em Zacarias, Isabel, em Maria, a alegria pela VINDA DO SALVADOR.
4 – SINAIS SENSÍVEIS DO ADVENTO
– a cor roxa que não tem caráter penitencial, como na quaresma, mas expressa a ânsia e a alegria da espera.
– a ausência de flores e do Glória, reservados para a festa de Natal.
– a coroa do advento, cujas quatro velas vão se acendendo progressivamente e expressa a nossa atitude de vigilância, como as virgens do Evangelho de Mateus 25, 1-13. A luz da vela evoca o próprio Cristo, Sol da justiça, a quem esperamos “com toda a ternura do coração”. A forma circular da coroa refere-se à harmonia cósmica. Os ramos sinalizam a relação com a natureza e o seu verde é sinal de esperança.
– Os textos bíblicos da primeira aliança falam das promessas messiânicas. Isaías o profeta do deserto, figura importante no advento.
– No Evangelho, o pequeno resto do povo de Israel: João Batista, a voz que clama no deserto; Maria, a virgem grávida do Verbo da vida; Isabel, a mulher estéril que fica grávida; Zacarias, o pai de João Batista: José, o homem justo e solidário; os anjos cantores da boa nova… O grande personagem é o Cristo, o esperado, o desejado, o sol do oriente, o Emanuel.
– Os prefácios, as demais orações, as antífonas dos salmos responsoriais e do Ofício Divino (LH) explicitam os sentidos do Advento em cada um dos quatro domingos.
– Os cantos e a música que expressam também toda a dimensão litúrgica do Advento.
5 – ATITUDE ESPIRITUAL NO ADVENTO
Tal como a terra se abre à semente, ou como a sentinela espera a aurora, entramos nesta atmosfera de piedosa e alegre espera.
Esperamos alguém que já está presente. A vigilância então é uma atenção no momento presente.
Estar vigilantes a nós mesmos, para não nos deixar enganar … para não confundir o nosso desejo mais profundo com o desejo de posse ou para não sermos guiados por desejos desorientados: desejos de vingança, desejo de sempre ter razão, desejo de vencer a qualquer preço, etc.
Estar vigilantes à palavra que nos é dada na liturgia, prolongando a escuta na oração pessoal, para que possamos encontrar a plena orientação dos nossos desejos pela mediação do Verbo que vem ao nosso encontro. “É Ele que ama em nós” (Jean Leloup).
Estar vigilantes no cotidiano, no “cuidado com a casa”; viver o momento presente com atenção ao espaço que ocupamos, aos gemidos da terra …, às pessoas, “acorrendo com as nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem”.
Obs: Fontes bibliográficas:
Penha Carpanedo, pddm.
Liturgia em Mutirão, nº 15, págs. 47/48.
Viver a Liturgia, D. Clemente Isnard, págs. 30 e 73.
Imagem enviada pela autora.