Todo fim/início de ano é a mesma coisa. Justamente por ser a mesma coisa – um dia após o outro – sempre considerei um saco todo aquele excesso de festividades. Como festa é um bom argumento (precisa?) para beber, então tudo está perdoado aos alentos de Baco.
O difícil de engolir são aquelas listinhas de promessas -ou “projetos”- que a gente faz todo bendito início de ano. A gente sabe que não vai cumprir nem metade, quiçá um terço; mas continua fazendo, mesmo subconscientemente. Sempre tudo igual. Emagrecer, comer menos chocolate, dar mais atenção aos amigos, se preocupar menos com o trabalho, não entrar em [novas] enrascadas amorosas, blá blá blá.
Atire o primeiro e-mail quem nunca pensa nessas coisas no início do ano- para esquecer tudo quando chega o primeiro convite para sair. Ou o Carnaval. Seria cômico, se não fosse leseira.
E como o Super Ranzinza não é diferente de ninguém, a lista de projetos só faz crescer. No entanto, eu hei de acreditar que em 2004 conseguirei cumprir ao menos cinco tópicos.
Primeiro | Preciso dar mais atenção à minha saúde. Pretendo seguir o exemplo do pai de um colega meu, que há anos tenta passar 6 meses sem beber, sem sucesso até agora. Então, está prometido. Em 2004, vou beber dia sim, dia não. No final do ano, a conta fecha e serão exatos 6 meses sóbrio. Uma grande conquista. Com tanta saúde, em 2005 já poderei sondar a possibilidade de participar de um triatlo etílico: 4 litros de pinga, 180 de cerveja e 42 de vodka.
Como sou rum em matemática, peço encarecidamente que não me chamem para sair durante os “dias não”. Não quero perder as contas. Ficarei de resguardo, em profunda meditação. Oxalá eu encontre incensos com odor natural de uísque para os “dias não”.
Segundo | Preciso voltar a fazer exercícios físicos. Na minha época de colégio, eu era um dos cachorros-quentes mais rápidos da sala. Enquanto a turma comia dois, eu já estava acabando o terceiro. Dizem que faz bem para os músculos da língua. Só assim para a coitada funcionar mais vezes.
Também fui muito bom em sinuca. Faz um bem danado aos bíceps. Partindo da premissa de que se levanta um copo de cerveja a cada tacada, é quase uma aula de musculação. Já dá para levantar uma mulher desnutrida nos braços. Espero conseguir cumprir esta meta, se os papudinhos do bar deixarem. Porque quando chega minha vez, já demorou tanto que torna-se mais interessante praticar apenas halterocopismo. O jeito será jogar sinuca durante os “dias não”.
Terceiro | Preciso parar de me apegar. A gente começa a freqüentar um bar e, daqui a pouco, o lugar fica mais conhecido ou vira reduto de playboy. Resultado: o preço aumenta e vira bar de azaração. O povo antigo, que entende que bar é lugar para beber e conversar (e não para paquerar), tem que arrumar as garrafas e procurar outro reduto para tibungar.
Quarto | Preciso me benzer. Consultar-me com os orixás. Uma sessão de despacho. Atendimento em terreiro de macumba. Hipnose. Regressão. Qualquer coisa. Tenho que descobrir de onde surgiu a sina de mulher comprometida. Até onde o bom senso permite enxergar, quem é comprometido tende a se arriscar em aventuras com o exótico, o diferente. Não sei até onde baixinhos, barrigudos, carecas e ranzinzas sejam exóticos. Tirante o “ranzinza”, somos a maioria.
Não tem sentido. A teoria do azeitador de maquinário* é feito o Windows. Vez por outra, dá bug. Se depurar, o resultado é igualmente preocupante. A gente chega à conclusão de que as boas morrem cedo. Evidente que não é verdade. E por isso mesmo preciso de um catimbó em caráter de urgência. Inclusive, isso poderia fazer parte da listinha de projetos de vocês, mulheres: não se comprometam cedo. Ao menos não seriamente. Ao menos não este ano.
Quinto | Para não fugir do assunto. Preciso ser mais seletivo em relação às mulheres. O tempo passa, os cabelos vão caindo, a barriga crescendo, os neurônios morrendo… a lógica natural é a gente impor mais pré-requisitos em relação ao sexo oposto. Então, em 2004, também está prometido. Mulher? Só com dois braços, duas pernas, dois olhos, um nariz e uma boca. Se estiver faltando alguma coisa disso aí, necas.
Ainda bem que o Carnaval há de chegar logo.(05.01.2004)