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Graças ao estado de pobreza e a busca por uma oportunidade, Maria, uma jovem colombiana de 17 anos de idade, aceita fazer um serviço não muito raro em seu país: entrar clandestinamente nos EUA carregando dentro do estômago uma grande quantidade de heroína. Com muita simplicidade e com um caráter fortemente documentário o filme de Joshua Marston “Maria Cheia de Graça” é um retrato do narcotráfico e da manipulação de jovens que entram no esquema perigoso em busca de uma melhor qualidade de vida.
O ser humano interage com seu mundo de forma natural e inevitável. É impossível passar pela existência sem deixar alguma marca e sair dela sem levar impressões e experiências. Nessa interação com o mundo, surge, muitas vezes, o desejo consciente de torná-lo algo melhor. Este saudável desejo surge da não-conformidade com a ordem atual. Já o simples lutar pela própria sobrevivência nos impulsiona para a criação de novos caminhos através dos quais possamos desenvolver uma vida mais feliz e prazerosa. Muitos seres humanos, porém, percebem, durante seu transcorrer na existência, que sua felicidade individual está intimamente dependente da felicidade coletiva. Se superarmos nosso egoísmo e nos tornarmos sensíveis ao outro, chegaremos com certeza à conclusão de que a nossa felicidade torna-se impossível ao testemunharmos diariamente a infelicidade de nossos semelhantes. Dessa necessidade de um “Bem-Estar” coletivo e de uma sociedade mais humana, surgem os diversos tipos de altruísmo e voluntariado. Do simples partilhar alguma coisa com o outro até as organizações sociais, sindicatos ou associações de bairro, a solidariedade começa a aproximar concretamente as pessoas transformando a sociedade em uma realidade mais igualitária e, portanto, mais feliz.
Apesar deste desejo de contribuirmos para um mundo novo, continuamos vivendo em uma “Terra de muitos males”. O próprio surgimento de iniciativas que busquem a melhoria de qualidade de vida para todos é um fenômeno raro em nossa sociedade brasileira, pois o sistema de consumo no qual vivemos reforça o egoísmo e a luta individual contra os outros. A segunda dificuldade é encontrada no próprio desenvolvimento dos grupos já existentes. No início, toda iniciativa é marcada por um idealismo criativo que é capaz de transformar um bairro, um meio ambiental ou até mesmo uma região dando mais vida e esperança aos seres humanos. Porém, no transcorrer da interação com a realidade, presenciamos normalmente um processo de acomodação. Neste as pessoas e grupos vão se distanciando dos princípios que lhes deram origem, geralmente princípios revolucionários e subversivos, criativos e dinâmicos. Estes são reinterpretados perdendo suas características iniciais ou são substituídos por princípios menos exigentes. Este início de caminhada acaba tornando-se um passado sempre relembrado no presente com grande saudosismo, apesar de não haver interesse de revivê-lo. Muitos grupos, sindicatos, instituições, associações ou iniciativas privadas percebem que já perderam o carisma inicial e sua própria razão de ser, e mesmo assim fecham os olhos para o apelo do presente perdendo a oportunidade de fazer a história. “Geralmente, a humanidade costuma olhar o presente através de um espelho retrovisor. Isso significa dizer que ela só percebe o presente quando já é passado” (Raul Seixas).
Diante do desafio que nossa realidade nos impõe é fundamental nos despertarmos para o voluntariado e a solidariedade. Porém, é necessário também perseverar na caminhada, pois as transformações sociais não acontecem com a rapidez que desejamos. É importante recuperar a razão de ser de cada instituição que, algum dia, se propôs a realizar algo de concreto pelo bem comum. Fundamental é também não confundirmos pessoas que cometem falhas (mesmo que estas sejam graves) com a própria instituição. Voltar às raízes do idealismo e perseverar sem deixar de responder aos novos apelos da sociedade é um desafio para sindicatos, associações, igrejas ou qualquer outra instituição que deseja contribuir para a nossa qualidade de vida. Que as atuais instituições possam passar por críticas sérias que as levem a uma transformação radical e a revisão de suas práticas. Isso só acontecerá se as pessoas lúcidas não deixarem as instituições devido a seus erros, mas continuarem firmes e críticas para que pessoas com visões distorcidas não continuem a utilizá-las de forma errônea. “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível” (São Francisco de Assis).