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(Ao Dia Nacional da Consciência Negra)
Ele dizia ser um ser perfeito:
– Não tenho empáfia e não sou avaro!
Mas não perdia aquele preconceito
de, à raça negra, nutrir forte enfaro.
Porém, um dia, ao se sentir cansado,
rumou mais cedo do trabalho ao lar.
Na estrada viu alguém atropelado;
parou o carro e foi averiguar.
Alguns gritavam: “Por favor, socorra
o moço exangue, nos braços da morte!”
Viu que era um negro, desejou: “Que morra,
que a morte o faça de fiel consorte!”
Duro qual pedra fumou um cigarro,
cuspiu no chão sem ter nenhum respeito;
e ao caminhar na direção do carro,
desfaleceu por forte dor no peito.
Ao despertar sentiu o corpo exposto
sobre uma cama de hospital, despido.
Estava fraco, com calor no rosto;
quis levantar-se, mas fora impedido.
“Não se levante! Fique aí deitado!”
Disse-lhe um médico. “Não se levante!
Seu coração fraqueja, está lesado…
Para salvá-lo, somente um transplante.”
Anestesiado, dormiu e sonhou
que estava inerte naquela avenida,
tal qual o negro que ele abandonou
sem compaixão a se esvair da vida.
Um anjo negro num branco cavalo
apareceu, apeou e assim falou:
“Eu te amo tanto… também hás de amá-lo
pois o terás no peito que falhou…”
Dias depois, ao lado do seu leito,
uma senhora disse, entristecida:
“Meu filho agora mora no seu peito,
cuide bem dele e tenha longa vida.”.
Quando ele a olhou, chorou, pediu perdão.
E ela, sorrindo, sem nenhum rancor,
disse: “Jamais esqueça essa lição:
o amor, meu filho, não tem forma ou cor!”.
Obs: O autor é membro da Academia Pindamonhagabense de Letras é autor de: Lágrimas de Amor – poesia; O sapinho jogador de futebol – infantil; O estuprador de velhinhas & outros casos – contos; Histórias de uma índia puri – infanto-juvenil; O casamento do Conde Fá com a Princesa do Norte, e Um caso de amor na Parada Vovó Laurinda – cordéis.
Imagem enviada pelo autor.