deborah 01

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Ela costumava sonhar diversas vezes com o mesmo sonho. Ao acordar, era tomada por um sentimento de angústia. Desfrutava todas as noites de momentos que ela pretendia alcança-los, mas não sabia nem mesmo por onde começar. O sonho era mais ou menos assim: teria acabado de acordar e saía de uma casa cor-de-lilás, simples, mas que particularmente alcançava esta cor, o tom lhe dava passagem para um largo sorriso. A casa era desproporcional para o imenso jardim que a esperava de manhã cedo. De frente, uma árvore com um balanço, mas não tinha crianças. Na verdade, estava sempre sozinha nesta casa engraçada. Estranhamente, não sentia falta de ninguém, na verdade se sentia livre. Levantou os braços e uma corrente forte de vento lhe agarrou causando arrepios em cada parte do seu corpo. Nesta casa peculiar, poderia até mesmo ser levada pelo vento e voar tão alto quanto desejasse.

Havia uma piscina em meio ao jardim, ela se despia e mergulhava por todo o tempo que lhe coubesse. Assim como a casa, a piscina era pequena, mas quando estava lá podia nadar por horas, não havia limites! Até mesmo se encontrou em meio ao mar, conversou com os peixes e se sentiu uma sereia – ideia boba a sua, pensou.

Ela começou a sentir sede, quis voltar para a casa engraçada. Nadou, nadou, até perceber que não havia encontrado paredes desde que entrou na piscina. Então começou a nadar rumo ao céu, e nadou, nadou, mas ainda assim não conseguiu encontrar uma saída. Foi tomada por um imensurável desespero. Teria se perdido, ou algo assim? Mas como se perder em sua própria casa? Afinal, estava apenas em uma piscina… Não estava? “Quanta bobagem!”, pensou novamente. E quando menos esperava, percebeu que precisava de ar – um pouco atrasada, considerou.

Seu sentimento havia sido transtornado por uma grande aflição, acompanhado de opressão e tristeza. Curioso, mas procurou não se preocupar com nada disso, a não ser em voltar para a casa engraçada.

Sentiu vertigens. Foi se entregando… Entregou-se ao mar como se fizesse parte dele, sem medo, sem apertos no peito.

De um modo singular, a garota havia se perdido. Porém, não avistou problema algum quanto a isso. Afinal, ainda estava em casa… Naquela piscina admirável, ou preferia achar que estava.

Pouco depois, despertou. De antemão, não encontrou nenhuma casa lilás, nenhuma piscina, nenhum jardim, um balanço ou uma árvore. Procurou por todos eles… Nada. Ao acordar e ser tomada por uma breve consciência – e, quem sabe, um pouco de sanidade- o som particular do mar lhe atravessou os ouvidos. Foi quando percebeu que estava deitada na areia e a água do mar tocava o seu corpo. Se levantou por um susto, olhou para si, vestia um maiô lilás. Havia acordado.

“Victoria!”… Alguém lhe chamava.

Mas Victoria já não estava na praia, estava em seu quarto. Não sabia se a voz que havia invocado o seu nome pertencia ao seu sonho ou à realidade, nessas horas já não sabia mais em que realidade se encontrava, nem mesmo se isto lhe importava. Só pensava em voltar para a casa engraçada.

Sonolenta, se levantou para atender ao chamado. Observou que a porta ia se afastando à medida que se aproximava da mesma. Foi quando se deu conta de que não estava acordada, mas que também não estava dormindo.

Estava presa.

E mesmo aprisionada em meio a estas duas realidades, a única coisa que esperava era de que não acordasse, não agora! Talvez ainda conseguisse encontrar o caminho de volta para a casa engraçada. Aquela ali, cor-de-lilás.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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