Dênis Athanázio 15 de novembro de 2016

denis sobre amar e sofrer

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Em uma entrevista, foi perguntado para uma atriz como “andava” a relação com o pai que sempre fora conturbada. A atriz deu uma resposta que me chamou a atenção: “Hoje estamos bem pois percebi que para amá-lo tenho que manter uma certa distância. Não convivo todos os dias com ele e isto ajudou muito”.

Temos que estar sempre próximo de quem amamos? Será? Sabemos que as pessoas que amamos são as que mais nos alegram. Mas também as que mais nos magoam. Ouvimos reclamações do tipo “De um inimigo eu esperava essa atitude! Mas de você? Isso nunca!”.

Pensar que alguém que amamos possa nunca “mudar” dói bastante. É difícil olhar para alguém que está se afundando em alguma situação ou prática que consideramos errada sem podermos fazer quase nada. Tentamos de tudo, mas nossa humanidade e limitação mostra-nos que muitas vezes, somos impotentes perante a vida, essa mesma que não permite ensaio, é ao vivo, é na hora.

Outra questão complicada é: até onde temos que ir para ajudar alguém? Ou, quem somos nós para tentarmos “impor” algo para que o outro mude de vida? O que complica mais ainda é que (apesar de muitas pessoas pensarem dessa forma) nossos sentimentos não são manejados e manipulados como um celular que podemos apertar um botão e pronto! Está excluído, apagado e problema resolvido!

Então, existe saída para esse dilema? Na verdade, é no mínimo inocente pensarmos que poderemos não sofrer na vida, pois evitar sofrer já é um sofrimento, é algo falso e mentiroso, e, como nos diz o cantor Renato Russo, “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”. Mas penso que podemos diminuir nosso sofrimento e a atriz citada acima, está tentando amar seu pai do único jeito que conseguiu: se distanciando dele, diminuindo o contato. Temos que aprender a dar limite aos outros que nos fazem mal, mas de forma alguma quer dizer que não os amamos, pelo contrário, estamos dizendo: “Só estou fazendo isso porque te amo”.

Finalmente, não tenho a intenção de afirmar que devemos nos distanciar de “tudo e todos” que amamos para não nos magoarmos, não nos comprometermos e não nos relacionarmos. Só queria poder esclarecer que temos limite e, ao contrário do que ouvimos hoje em dia, o limite, às vezes, pode ser bom e salvar nossa vida. Mesmo sendo difícil, teremos que aprender, com o tempo, que algumas viagens de família não acontecerão mais, algumas brincadeiras não serão repetidas e algumas palavras não serão mais ditas. Por outro lado, posso melhorar a mim mesmo, diminuindo dores sentidas por tentarmos incansavelmente “darmos murros em ponta de faca”. Assim, poderemos sofrer menos (o que já é um grande avanço). Sobrará, então, espaço para amar mais pessoas, inclusive as mesmas das quais estou me distanciando.

Não somos deuses, somos humanos, falhos e, muitas vezes, fracos. Faça o que está ao seu alcance, e do resto, deixe a vida fazer sua parte.

Obs:  O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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