ronaldo silencio dyla

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Não se surpreenda se no dia 10 de dezembro próximo o cantor e compositor norte americano, Bob Dylan, não comparecer ao jantar de gala da Academia do Prêmio Nobel em Estocolmo, na Suécia. Anunciado como o ganhador do Nobel de Literatura de 2016 no último dia 13 de outubro, Dylan, apesar do barulho mundial contrário – principalmente nas redes sociais – ainda não se manifestou. Reforçando a sua persona como no documentário “ I’m Not There”, de 2008.

Bob Dylan é o ser mutatis mutandis em pessoa. Seja musicalmente, fisicamente ou psicologicamente. As alterações da sua persona pública dialogaram com acontecimentos sociais e ocasionaram múltiplas repercussões culturais. Ícone musical, poeta e porta-voz de uma geração, viveu sempre em constante mutação ao longo da vida, especialmente durante os anos 1960, auge da contracultura. De jovem menestrel a profeta folk, de poeta moderno a roqueiro, de ícone da contracultura a cristão renascido, de caubói solitário a popstar.

Um cara que já inspirou centenas de livros, teses e tratados, ganhou prêmios como 11 Grammys, um Globo de Ouro e um Oscar pela canção ‘Things Have Changed’, do filme ‘Garotos Incríveis’ (2000). Em 2008, recebeu também uma menção especial do prêmio Pulitzer, em reconhecimento a seu “profundo impacto na música popular e na cultura americana”. Mr. Bob Dylan nunca foi de correr atrás de quaisquer premiações, ainda mais uma que vem enviesada dessa forma.

O silêncio de Bob Dylan quanto à premiação pode ser explicado de três maneiras: a primeira é para contrabalancear o grande barulho que se fez em todo o mundo, principalmente por meio das redes sociais, geralmente de pessoas – renomadas ou não – contrárias a essa decisão da academia sueca. A segunda revela que ele, antes de ser Bob Dylan, famoso cantor e compositor, é, e continua sendo, o cidadão Robert Allen Zimmerman. E a terceira prova que Mister Bob Dylan preza e respeita os grandes e verdadeiros literatos mundiais. Tanto respeita que o silêncio foi a forma que ele encontrou para revelar a “viagem” da academia. Num segundo momento, o artista retirou a frase “VENCEDOR DO PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA” do seu site.

Agora, com relação à literatura, a atitude de se premiar um expoente de uma outra área com o Nobel demonstra o quão o nonsense já dominou as pessoas, nessa boca bafejante e lerda de começo de século. Estou com o escritor Miguel Sanches Neto quando disse que o prêmio deve prestigiar uma obra atemporal, ou seja, que não seja presa nem no passado e nem ao presente, para que esta não venha a cair em desinteresse em outras épocas.

Assim, enquanto parte das pessoas acha que essa ação da academia não é de todo mal, pois pode trazer mais atenção para a literatura, e a outra parte renega essa que seria uma ação equivocada do prêmio, penso também como estes últimos.

Primeiro, porque há que se distinguir as áreas do fazer artístico. Música é música e não literatura, apesar de na maioria das vezes utilizá-la para se solidificar, e ela possui vários tipos de premiações, cujo maior ícone é o Grammy. Segundo, porque a literatura é a arte basilar, ou seja, é aquela matriz de todas as outras áreas. A música geralmente necessita de uma letra; um espetáculo de dança necessita de um mote, uma história, assim como o cinema, o teatro… E por fim, porque penso que a literatura é o grande motor da memória universal. Não estamos em pleno Século XXI nos alimentando do que outros escreveram antes de nós? Cervantes, Shakespeare, Dostoievski, Kafka, Joyce, Pessoa, e tantos outros não pululam em novos livros, músicas, peças teatrais, cinema e outras plataformas. Porque, para mim, a literatura é a arte que conta com maior força a saga humana
sobre a terra.

Voltando ao caso Dylan, lembro que o prêmio do Nobel de Literatura é de cerca de R$ 2,8 milhões. Ele há de receber, sim, o prêmio, se não conseguir demover a academia da ideia nobelística. E a grana deve direcionar para alguma instituição beneficente. Ao contrário do filósofo francês Jean-Paul Sartre que rejeitou o mesmo prêmio em 1964.

O show a ser realizado durante os seis meses subseqüentes ao prêmio pode até rolar. Quanto a comparecer ao evento, penso que a sua atitude vai ver a mesma de sempre, ou seja, completa ausência. Corroborando a velha e sistêmica sina do “não estou lá”. Porque, afinal, por tudo o que já fez musicalmente, com ou sem Nobel, Bob Dylan estará sempre em todo e qualquer lugar.

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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