Quando eu era menina bem menina
Eu tive meu pequeno paraíso
Feito de junquilhos, risos-de-Maria, pinceis e roreiras
Do terreiro na casa de vovó Irene.
Quando o ônibus descia a av. Norte
Meu coração já batia diferente
Dobrando na Gomes Coutinho
Como quem pressente
Quase sempre me esperava tio toinho
Com um bombom de chocolate
E um sorriso terno e grande como seu carinho
contava onde escondera sua coleção de quadrinhos de terror
Vovó não queria que eu lê-se “estas estórias feias”
Mas ele dava um jeito de driblar a vigilância …
A geografia da casa eu conhecia de cor
Ainda hoje ela me povoa os sonhos
O terraço lateral onde Vovó arrumava minha casa de bonecas
E sentava-se comigo pra brincar…
A terra escura
Os pés de Bredo
Os vidros coloridos sobre a porta da sala
A janela lateral onde eu gostava de sentar
Os discos de vinil da tia Fátima
O quarto impecável da tia Ju
E a janela alta do beco
Que demorei até desvendar.
O quadro negro na grande sala dos fundos
Que era sala de janta e era quarto e espaço social
Os pilarezinhos do pequeno terraço da fachada principal
O banheiro entre a cozinha e a sala de jantar…
As vezes tio Toinho não estava no caminho
Na casa eu já sabia o que fazer
corria pra sua gaveta e vasculhava
doida pra saber noticias do conde Drácula
e contente achava a trufa que sempre me esperava
e escondida num pedaço do jardim
lia o novo número da revista,
apavorada,sobressaltada e feliz
sentindo-me segura por saber em fim
o quanto
aquelas pessoas gostavam de mim