Rejane O Dono da Bola

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Era uma vez um garotinho que queria jogar futebol. Mas ele jogava muito mal e nunca se esforçou para aprender a jogar, pelo menos um pouquinho. E sempre ficava de fora das peladas no campinho perto de sua casa porque sequer as regras ele sabia. Atrapalhava tanto que em lugar de se divertir a turma ficava irritada.

O garotinho poderia ter se esforçado um pouco e aprendido a jogar e daí entraria no time sem nenhum problema. O pessoal nem era assim tão exigente. Era só um bando de crianças querendo se divertir. Mas ele não se importava muito como que as outras crianças queriam.

E aí, um dia, o garotinho ganhou uma bola. E esperou. Quando a bola que a turma jogava furou, o garotinho viu surgir, finalmente, a sua oportunidade de entrar para o time. E assim foi feito. Sendo ele o dono da bola tinha lugar cativo no time. Ninguém se atrevia nem a reclamar de sua “perna de pau“ que dirá pedir pra ele sair do jogo! Sem ele, sem jogo. E o garotinho sentiu, pela primeira vez, o sedutor gostinho do poder. Por pior jogador que ele fosse, seu lugar no jogo estaria sempre garantido. Pelo menos até que outra bola aparecesse ou a sua furasse.

O garotinho sabia que jogava mal, que o seu time estava sempre ruim, por sua causa, mas nunca se preocupou em aprender a jogar melhor. E nem estava nem aí para o fato de que se ao menos revezasse com outros que jogassem melhor,  o resto do time  ficaria mais feliz.  Não precisava se preocupar com isso. Ele era o dono da bola.

Certo dia foi criado um campeonato no bairro. A garotada organiza seus times e o vencedor ganhava um troféu e uma rodada de sorvete na lanchonete do bairro.  Mas, para ganhar o campeonato tinha que treinar e pra treinar precisavam de uma bola. E com a bola, vinha o dono dela, jogando mal,  perdendo gols, fazendo mil faltas, porem feliz. Então o garotinho levou reforços para o time: seus únicos dois amigos. Só que tinha um detalhe: eles jogavam pior ainda do que ele. Mas eram os amigos do dono da bola. Então também passaram a ter lugar cativo no time. Não preciso nem dizer que o time foi desclassificado nos primeiros jogos. Gols não fez nenhum, levar levou mais de dez. E faltas? Essas foram pra lá de mil. Mas o garotinho, os amigos e a sua bola, não estavam nem aí.

Embora apenas ele e esses amigos se divertissem durante os jogos no campinho, continuou assim durante um bom tempo. O dono da bola e seus dois amigos eram os primeiros a serem escalados para o jogo e, o resto da turma, se revezava nos lugares restantes. Todos torciam para a bola furar e o garotinho não ter mais como impor a ele e aos amigos no time. Mas a bola dele parecia ser feita de material especial. Nem furava, nem murchava, estava sempre parecendo nova, saída da loja.

A turma chegou até a tentar juntar suas mesadas para comprar uma bola nova e tirar o garotinho e seus amigos do time. Mas, quando ele percebia, combinava com os amigos e sabotava o plano, falando de um sorvete novo, de um álbum de figurinha sensacional, qualquer novidade que fosse e que levasse o resto do time a gastar o dinheiro que estavam juntando.

O tempo passou, e, cada vez mais, garotinho gostava de sentir o gosto do poder. Até que um dia ele chegou com os amigos para jogar e encontrou, para a sua surpresa, o jogo já em andamento. E, ainda de longe, ele podia ouvir os gritos animados e as alegres risadas do pessoal jogando. Ficou zangado. Como poderiam ter começado a jogar sem ele? Teriam finalmente conseguido comprar uma bola?

O garotinho e seus amigos se aproximaram do campo e de boca aberta, viram que os dois times estavam jogando, mas e a bola? Onde estava a bola? Percebeu que havia um garoto novo no meio do jogo. Os seus amigos lhe informaram que ele havia se mudado há pouco para a vizinhança. Indignado se aproximou ainda mais e gritou bem alto: parem o jogo. Vocês enlouqueceram? Como podem estar jogando sem bola? Sem a minha a bola? Sem mim e sem meus amigos? Se não pararem agora nós vamos embora e vamos levar a bola e vamos formar outro time pra jogar.

O jogo parou, mas a garotada continuava a rir, parecendo não se importar com o que ele disse. Mais irritado ainda, falou gritando que nunca mais eles jogariam com sua bola. Foi então que um dos meninos chegou perto e disse: pode levar sua bola e formar outro time. Nós não precisamos mais dela pra jogar.

Como assim? Indagou o garotinho, suando e ansioso. Vocês compraram outra bola? E os meninos todos responderam de uma vez: NÃOOOO!!!

Então como pode estar jogando sem bola? E foi aí que o garoto novo se aproximou segurando uma pequena bola nas mãos. Que bola ridícula é essa? Perguntou o garotinho. E novo vizinho respondeu: é uma bola de meia. Você nunca viu? E então todos voltam para o campinho e recomeçaram, animadamente, o seu jogo.

O garotinho e os amigos não puderam fazer mais nada para obrigar o pessoal a jogar com eles. A turma tinha encontrado outra forma de se divertir e não precisavam mais de sua bola. Com raiva furou a bola e a jogou longe. Não queria vê-la nunca mais. E foi assim que o garotinho e seus dois amigos “pernas de pau” tiveram que encontrar outra forma de diversão. Quem sabe não seria uma boa hora de aprenderem que, na diversão, como na vida, só vale a pena se for bom para todos?

Obs: A autora é  jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação.
Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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