D. Edvaldo G. Amaral 15 de novembro de 2016

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Recente decreto da Santa Sé determina que as cinzas de fiéis católicos, cujos corpos foram cremados, sejam colocadas “em lugar sagrado”.  O problema é exatamente local disponível. Numa  cidade, como São Paulo, por exemplo, não há lugar disponível em cemitérios públicos, para novos sepultamentos e os corpos dos falecidos devem necessariamente serem cremados pela família. Já houve, na tradição católica, hoje desaparecida, certa aversão à cremação de cadáveres,  interpretada como uma negação do dogma da ressurreição da carne.

 O Boletim Salesiano, em sua edição italiana de outubro deste ano, narra comovente história de um garoto, que a revista chama de Jimmy, falecido de  câncer implacável. Ele  havia dito à mamãe que doasse seus órgãos para algum menino doente, que precisasse deles . E, conforme  a revista, assim justificava seu gesto: “Mamãe, não usarei mais meu corpo depois de morto. Mas, doando meus órgãos, farei com que algum menino viva mais tempo com sua mamãe.”

Na família salesiana, temos  exemplo do primeiro gesto generoso de, após a morte, doar o corpo para estudo de anatomia. Foi o Padre Olímpio Gabriel Martins Ferreira, filho de ilustre família mineira. Um de seus irmãos foi engenheiro da Triken em Maceió.

 Padre Olímpio, por sinal meu colega de turma na ordenação sacerdotal em  1954,  solicitou ao Conselho Inspetorial dos salesianos de Minas a licença de doar seu corpo para estudo após a morte, assim justificando: “ Após muita oração, reflexão e aconselhamento, decidi, de livre e espontânea vontade, fazer  a doação de  meu corpo, após a morte, à Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais de acordo com a legislação em vigor. Já está penetrando em nossa cultura brasileira a importância humana e cristã da doação de alguns órgãos em vida ou após a morte. Se esta é uma excelente forma de caridade fraterna, sem dúvida alguma, mais excelente ainda é a doação do corpo inteiro, porque, além de incluir a doação de todos os órgãos aptos, também autoriza e facilita a utilização dos órgãos, tecidos, células para fins terapêuticos, de pesquisa científica ou para o aprendizado dos alunos. A conclusão é óbvia: doar o corpo inteiro é o último e mais completo ato de caridade fraterna após a morte. Está na hora de os cristãos (consagrados, religiosos e seculares) colaborarem com o exemplo para incentivar essa cultura da doação de corpos. Em alguns países da Europa e da América Setentrional, 90% dos corpos utilizados na pesquisa científica e na aprendizagem dos alunos, são doações espontâneas. No Brasil, por enquanto, não chegam a 0,5%.”  O Pe. Olímpio citou neste documento a lei 9.434/97 que dispõe sobre a matéria e anexou o termo de doação de seu corpo, após a morte, à Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Pe. Olimpio faleceu em 2 de janeiro de 2006. Seu velório foi realizado no salão nobre da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e, após a Santa Missa, presidida pelo Padre Provincial dos Salesianos de Minas, o corpo foi entregue às autoridades acadêmicas para realização de seus últimos desejos.

Obs: O autor é  arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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