Cavarei a minha cova
neste terreno em que ninguém
suspeitará que haja um corpo humano apodrecendo.
Por aqui não passa ninguém.
Serei acolhido no seio materno da mãe terra.
Nenhum traço de reconhecimento,
nenhuma marca de meus passos deverá ficar na areia.
Como me sentirei no frio úmido da terra
sem poder girar o meu corpo,
sem poder pedir um agasalho quente?
E quando os germes começam a sua tarefa
de decompor o meu corpo
terei coragem de sorrir
ou aterrorizado chorarei?
Cavarei a minha própria cova com minhas mãos.
Medirei cada centímetro da sua profundidade.
Talvez sete palmos sejam poucos para sufocar
para sempre todos os meus sonhos.
E se alguém descobrir onde estou?
Darei uma bela gargalhada, e direi:
Amigo, você chegou tarde demais. (Caetés 23/10/2016 – 22:27h)