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Acabamos de celebrar a Semana Mundial da Alimentação que gira em torno da data de criação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (16 de outubro de 1945).

Os dias comemorativos devem estimular a reflexão.
A primeira reflexão que esta efeméride pode despertar está contida no seu próprio nome: Dia Mundial da Alimentação e Semana Mundial da Alimentação. Ou seja, a alimentação é um problema mundial. A carência alimentar atinge todos os quadrantes da Terra. Mesmo em alguns países ricos, minorias são condenadas à fome. O direito ao pão é um direito universal, ninguém pode ser excluído da mesa. A fome deve ultrajar nossa consciência. Não é preciso que eu seja um faminto para que me revolte com a cena de uma criança que não tem o que comer.

Diante da calamidade da fome, reverencio três figuras: Josué de Castro, Amaro Simoni e Herbert de Souza.

Josué de Castro denunciou as causas sociais da fome. Desnudou esse drama num livro que correu mundo, mas que não é conhecido no Brasil tanto quanto deveria ser: “Geopolítica da Fome”.

Amaro Simoni anunciou o antídoto da fome: as inesgotáveis possibilidades do mar e, mais especificamente, do mangue, que pode prover de alimentação a Humanidade inteira. Comprovou sua tese através de um viveiro de peixes que mantinha, junto a sua residência, em Aribiri.

Herbert de Souza, nosso Betinho, criou um slogan que é uma advertência à face da atitude muito comum de adiar a solução de questões que exigem urgência: “a fome tem pressa”.

O que têm em comum Josué, Amaro e Betinho? O elo entre essas três personalidades é que fundaram suas vidas no anúncio da profecia. Profeta (nabi, do hebraico) quer dizer anunciador: o profeta anuncia.

A Bíblia menciona a capacidade de antecipar o que está para vir, como dom dos profetas. Essa antevisão não era fruto de um poder mágico, mas da sabedoria. Denunciando vícios e abusos os profetas anteviam o resultado dessas mazelas.

Os profetas não integravam as elites. Não surgiram ao lado do poder, da ordem imperante, do sistema. Pelo contrário,  irromperam no meio do povo. Contestaram a ordem estabelecida, que tinha suas origens na injustiça social, e advogaram uma outra ordem que subverteria os valores dominantes. O profeta Amós, por exemplo, era um lavrador. Vivia num tempo de progresso econômico promovido pelo rei Jeroboão, mas feito à base do egoísmo de grupos.

Não é de se estranhar que o povo se identificasse e ainda se identifique com os profetas, reconhecendo neles o ideal acalentado dentro da própria alma.

Reverenciemos nossos profetas Josué, Amaro e Betinho. Iluminados por essas vidas, derrotaremos a fome.

Obs: João Baptista Herkenhoff,  é magistrado aposentado (ES), escritor, professor, palestrante. 
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