Djanira Silva 15 de outubro de 2016

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Estou ótima, repito, de hora em hora, como um mantra. Estou ótima mesmo. Posso respirar, o coração bate regularmente. Estas são informações importantes que me asseguram a presença da vida, embora o corpo todo me incomode nas emendas, das articulações, numa briga de vizinhos que se estranham a cada manhã. A respiração é opressa, difícil, cansada, o que me diz que o fole vulgarmente chamado de pulmão está com os movimentos meio comprometidos. O velho relógio dentro do peito, ameaça parar, de vez em quando. Como qualquer relógio que se presa ora atrasa ora adiante em batidas descompassadas, aliás, é uma máquina velha, já deu o que tinha que dar.

Antigamente, muito antigamente mesmo, o relógio do peito parava e pronto. Agora, não, as coisas estão diferentes, recorre-se ao marca passo, às pontes de safena aos transplantes, modernismos estes que durante algum tempo driblam a morte e enganam o corpo obrigando-o a trabalhar horas extras. Será isto um bem ou um mal? O da parede, também funciona com pilhas que duram POUCO, terminam no lixo. Com a evolução, já nem precisam de corda, os de pulso não mais dependem dos movimentos do braço. Assim, máquinas e gentes, vão funcionando ao sabor dos novos conhecimentos.

Um dia, como qualquer mecanismo, ambos hão de parar. A máquina-homem entrará em colapso. Alguns ainda podem ter suas funções aproveitadas. Outros param por não possuírem condições de funcionamento. Até para isto é preciso sorte. Há quem viva além da vida. Não, não se trata de espiritismo, trata-se dos transplantes quando ainda é possível utilizar fígado, córnea, rins e continuar vivendo e sentido prazer com a enganação do Viagra.

Deveríamos ter dois corações um de verdade e um de reserva. Quando um pifasse o gerador assumiria o comando. A vida seria prorrogada e ainda haveria a possibilidade de se

mandar o coração defeituoso para o conserto, numa oficina autorizada que devolvesse o órgão completamente restaurado.

Obs: Texto do livro da autora – Doido É Quem Tem Juízo 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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