Dasilva 15 de outubro de 2016
  1. Quando a Organização Popular encara desafio da formação de trabalhadores, antes de estruturar tal processo, precisa elaborar uma nova proposta formativa. Não se trata apenas de substituir conteúdos, educadores, espaços ou inovar na metodologia; isso seria repetir a mesma escola pensada pela classe dominante. Então, o educador que pensava servir ao povo, acaba servindo ao poder que o constituiu professor.
  2. É indispensável reconceber o processo educativo na formação e escolarização dos oprimidos. Porque a educação tem papel fundamental na organização da sociedade seja para ordená-la, reformá-la ou revolucioná-la. A classe no poder sempre vai usar a educação como um recurso a mais para manter sua dominação; e a classe dominada poderá usá-la como instrumento poderoso, no seu processo de emancipação.
  3. A educação é um instrumento que torna comum as ideias de um grupo. A educação tem uma intencionalidade, pois, todo conhecimento tem objetivo, direção, finalidade e essa intencionalidade direciona o conhecimento e a ação que nasce desse conhecer. Assim, toda educação está à serviço de um interesse e de uma ideologia e como instrumento de uma estratégia de poder, para mantê-lo ou desmontá-lo.
  4. Em uma sociedade dividida em classes, a educação não pode ser a favor de todos – será sempre a favor da classe dominante, contra a classe dominada. O processo educativo é pensado ou para que as pessoas se acomodem ao mundo ou para que elas se envolvam em sua transformação. A educação conservadora é útil para manter a dominação; a educação transformadora é útil para livrar-se da opressão.
  5. A formação domesticadora naturaliza a prática de Insignare, de inculcar no oprimido, – de forma autoritária e/ou populista – diferentes pacotes com a finalidade de perpetuar a ordem dominante. Por isso, a-luna e a-luno (=sem luz) introjetam e, reproduzem conteúdos e modelos que fortalecem a estrutura de opressão. As teorias pedagógicas, mesmo quando críticas, construtivistas, participativas… atendem a esse objetivo.
  6. A formação, na sociedade capitalista, é organizada como forma de manter a exclusão dos trabalhadores do conhecimento acumulado da prática social. Por isso, o estudante é isolado da vida, do conflito, da realidade, enquanto esse tipo de ‘escola’ busca, a subordinação de quem conseguem ser ‘incluído’ para que reproduza essa subordinação. Ela realiza isso através de conteúdos, posturas e relações.
  7. A educação é crítica ao endoutrinamento ou dogmatismo que treinam obedientes seguidistas em seus princípios e posturas pedagógicas, mesmo querendo ser um ato de libertar-se. Porque a educação é um ato político e o ato político é educativo. A formação popular ajuda realizar os interesses dos trabalhadores quando qualifica militantes da transformação e construtores de uma nova ordem social.
  8. Um dos conteúdos na formação de trabalhadores é realidade da disputa entre as classes, no trabalho, na produção das mercadorias, nas relações sociais de produção…. Outro é a própria organização popular que convoca, esclarece, organiza e incorpora a massa trabalhadora como sujeitos construtores. É indispensável a transmissão do conhecimento acumulado de sua luta pela sobrevivência e pela liberdade.
  9. A formação estreita e dogmática que não respeita nem dialoga com a mundivisão que impulsiona os povos originários, afrodescendentes e cristãos que se engajam na luta social, é uma forma de imposição. A formação se torna significativa se encarna dimensões como cultura, tradição, história, idiossincrasias… e quando vê as identidades e novos sujeitos como riqueza que carregam o horizonte da transformação.
  10. Essa concepção de educação-formação exige mudanças na postura e na relação de educadores-educandos, nas técnicas participativas e, até na organização do espaço físico. Nesse olhar, não existe contradição entre método e conteúdo. O conteúdo é o conhecimento a ser re-criado, e o método é o caminho que transmite, a um grupo, o conhecimento da prática social. O fim é um caminho, e o caminho é também um fim. (junho de 2013)
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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