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(Retalhos do Quotidiano)
A gente nunca aprende suficientemente na vida. Penso, porém, estar aprendendo, aos poucos e não sem dificuldade, uma lição do quotidiano: para entender as outras pessoas e a mim mesmo, não basta prestar atenção às palavras que se dizem ou até a gestos que se fazem; é preciso captar a mensagem que, muitas vezes, se esconde por detrás das palavras e dos gestos. Não é suficiente o que se diz ou se mostra, é preciso ir além e, no que se diz ou se mostra, perceber o que realmente se quer dizer ou mostrar.
A palavra e o gesto são só mediações, “símbolos”, são apenas “corpo”. No seu interior, de certo modo oculto, está alguém que se diz, se dá ou se recusa a outrem. Entre o que se mostra e o que realmente se deseja “dizer”, há sempre a inadequação entre o “símbolo” e o “simbolizado”. É sempre perigoso aplicar lógica rigorosa ao que aparece. Muitas vezes o que se diz é justamente o contrário do que se quer dizer, ou, pelo menos, não é tudo nem exatamente. Por isso, o “Pequeno Príncipe” dizia que “a linguagem é uma fonte de mal entendidos”.
Tantas vezes, nos propósitos, nos arroubos de generosidade, nos palavrões de ira, frequentemente, não é ali que está o “conteúdo”, são apenas expressões de alguma situação humana intima que nos escapa. Quem sabe, não importa tanto o que se ouve ou se vê, importa sobretudo por que aquela pessoa esteja se exprimindo daquela maneira.
Sempre será um risco julgar as pessoas só a partir de seus gestos ou palavras. Há situações em que suas palavras ou gestos estão em contradição com o que há pouco mostraram ou disseram… Ficamos surpresos(as), por permanecer na superfície, em gestos ou palavras, “sinais exteriores” que nem sempre – e tantas vezes – deixam ver o que se esconde na vivência da outra pessoa. Esquecemos facilmente que há um núcleo íntimo que nem sempre é capaz de se manifestar ou de ser percebido… Perdemos a sensibilidade para perceber que palavra e gesto são só meios (quantas vezes ambíguos), símbolo, corpo, veículos daquilo que a poesia se acostumou a chamar de “alma”. (1968 (sem data)
Obs: Imagem enviada pelo autor.
Bispo Emérito da Diocese Anglicana do Recife
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB…..