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Antes de dedilhar, o pensamento me fixava em alguma nota sobre a eleição, aproveitando a do dia de amanhã. Pensava em estabelecer uma comparação entre as do ontem mais longínquo, quando vestia calça curta, e a de amanhã. A conexão repousava num fato que sempre me deixou curioso, traduzido no resultado das urnas, município por município, quando a apuração se fazia de forma manual, contando-se cédula por cédula, de governador, vice, senador, deputado federal e estadual, tudo lentamente, para, depois, anotados os votos nas listas, ser,enfim, oficialmente, objeto de divulgação. O que acontecia, então? Os partidos enfiavam, no dia seguinte, em seus respectivos jornais, aqui no Aracaju, totais diferentes. Se o jornal era do PSD, os candidatos do PSD ganhavam. Se era da UDN, a vantagem era udenista. Os números, entre um jornal e o outro, – e todos eram lidos pelos partidários dos dois partidos, – não batiam, como se cada partido tivesse suas próprias urnas. É só conferir nos jornais,ainda existentes,na Biblioteca Pública Epifânio Dorea.
Então, saltaria para os dias atuais, na fixação agora das pesquisas de intenções de voto. Nada com os resultados das eleições, porque estes merecem divulgação quase que imediata ao encerramento do pleito, graças ao avanço da tecnologia. A diferença de números pipoca nas pesquisas de intenção de votos. Em nível estadual, como a que estamos vivendo, os resultados, estampados nos blogs sociais, não conferem com os anunciados pela imprensa, ou seja, com as que passam pelo crivo e registro da Justiça Eleitoral. Cada uma – eu já vi várias – puxa a brasa para a sua sardinha. Ou seja, coloca seu candidato majoritário com alguns pontos na frente, mesmo que, oficialmente, se situe em patamar bem inferior.
Confesso que não me agradou. Futuquei a mente para pousar nas velhas eleições, precisamente, nas gabines, onde as urnas repousavam, todas de pano azul, um tanto grosso. A meninada indo ao Ginásio [Estadual de Itabaiana], durante o dia, para ver a movimentação, urubuservando as gabines, o olhar manhoso do gato antes do pulo na vítima. Terminada a eleição, as urnas conduzidas ao salão nobre da Prefeitura, a sala ficava a mercê de quem lá aparecesse. Então, as gabines eram assaltadas, o pano retirado. Pois entonce. Na mesma semana, coincidentemente, vários meninos desfilavam nas ruas com calção do mesmo pano azul das gabines.
Fiquei com a pulga atrás da orelha, sem estabelecer a conexão da divulgação mentirosa de resultados inverídicos com o calção azul da molecada. Tentei outros fatos ligados as eleições. Euclides dando beliscão num mesário, o assassinato de pai e filho na eleição de 1954, a minha vizinha que só ia ao ginásio votar se Manuel Teles mandasse o carro para sua condução ao local da votação, mamãe se arrumando em cima da hora para ir votar, tão elegante que parecia se dirigir a uma festa. Nada me agradou. Acho que, no fundo, estou ansioso para ver o resultado de amanhã. Conferir se as pesquisas, entre nós, merecem mesmo alguma confiança.
Obs: Publicado no Correio de Sergipe (em 04.10.2014)
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.