1. O PODER E A GRATUIDADE DA FÉ
(Lc 17,5-10)
A proposta de Jesus, no seu todo e nos seus detalhes, muitas vezes assusta “qualquer cristão”!
Daí, o pedido humilde e angustiado, insistente e confiante, dos discípulos de ontem e de hoje: “Aumenta a nossa fé!”…
E Jesus responde com duas singelas e intrigantes parábolas. A primeira, para exaltar o poder extraordinário da fé… A segunda, para descartar, “de primeira”, qualquer perspectiva de vantagem ou vanglória pessoal por parte de quem crê…
Como dirá o profeta Habacuc e ficará por lembrança: “O justo viverá por sua fé!”. Mas não fará dela, jamais, pretexto para arrogar-se direitos ou privilégios sobre Deus e os seus semelhantes.
Pelo contrário, quanto mais crê, quanto mais fé tem, mais consciência tem, também, de que esta mesma fé é um dom gratuito do Pai, que importa, constantemente suplicar. Quanto mais crê em Deus, mais se coloca a serviço de sua vontade, no serviço fraternal dos irmãos e irmãs…
A fé é uma motivação profunda, que faz o crente superar limites de todo tipo e desdobrar-se na realização surpreendente das maravilhas do Reino.
Sempre consciente, claro, de que tudo quanto ocorre em sua vida pessoal como em seu ambiente, em termos de mudanças, à primeira vista, impossíveis, é fruto do poder e da graça de Deus em nós. Por nós mesmos, entregues às nossas próprias limitações, somos apenas “servos inúteis”, embora cada qual possa afirmar com Paulo: “tudo posso naquele que me dá força” (Fl 4,13).
Eis a razão mais profunda do nosso celebrar, do nosso cantar!
Imaginem o peso que a FÉ cristã poderia ter no engajamento político dos cidadãos e cidadãs que se dizem “cristãos/cristãs”, iluminando e animando a gente, para, através dessas eleições municipais, garantirmos que as conquistas da Classe Trabalhadora e dos Movimentos Populares, em vez de regredir, avancem! Bom VOTO!
2. A CEIA DO SENHOR E O JANTAR DO “PRESIDENTE”, A VOTAÇÃO DA PEC 241 E O “ex opere operado”
Eu, também, não tenho provas, mas tenho plena convicção em minha certeza de que boa parte daqueles e daquelas que atenderam ao convite do “Presidente” para jantar com ele nesta noite de domingo, 09 de outubro de 2016, primeiro, religiosamente, na noite do sábado ou neste mesmo domingo pela manhã, tenha participado da Missa, como, entre católicos e católicas, costumamos apelidar a celebração da Ceia do Senhor.
A teologia escolástica tradicional nos ensinou que, feitos os gestos e pronunciadas as palavras, “ex opere operato”, isto é, pelo fato mesmo do que foi feito, o que aconteceu na véspera da morte de Jesus se repete, aqui e agora, para e com as pessoas que desse ritual participam. Imagino, inclusive, que “nobres” deputados e “deputadas”, talvez até ministros, tenham comungado.
E os que, supostamente, comungaram com Jesus em sua entrega, sua doação de vida pela humanidade, vieram, na noite deste domingo, sentar-se à mesa com o “Presidente”, não só para comer com ele uma lauta refeição, mas para comungar com ele na sua proposta mais questionável, qual foi a PEC 241, a ser votada no dia seguinte, esta segunda-feira, 10 de outubro de 2016.
Pensando apenas, então, nas deputadas e deputados católicos, da base aliada do governo, quem terá levado a melhor, Jesus Cristo ou Michel Temer? …
E eu poderia referir-me aos que votaram a favor da criminosa PEC 241 com as palavras com que o Papa Francisco, certa feita, se referiu aos homossexuais discriminados e condenados pela sociedade preconceituosa que somos: “Quem sou eu para julgá-los” …
Mas eu prefiro lembrar o que Jesus disse no Sermão da Montanha: “Cuidado com os falsos profetas: eles vêm a vocês vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes. Vocês os conhecerão pelos frutos deles: por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas. Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz maus frutos. Uma árvore boa não pode dar frutos maus, e uma árvore má não pode dar bons frutos. Pelos frutos deles é que vocês os conhecerão” (Mt 7,15-20).
Talvez, hoje em dia, se precisasse chegar a uma nova percepção, a uma mais clara e correta consciência da natureza e da importância dos Sacramentos. Está provado por este fato, escandaloso e recente, e por tudo o que se observa no desempenho dos cristãos e cristãs deste país, mormente de nós católicos e católicas que há mais de 500 anos nos confundimos com a história mesma desta nação, que não basta nos contentarmos com essa visão e esta prática sacramental, que tem mais de magia e enganação, que de “adoração em espírito e em verdade” (cf. Jo 4,21-24).
Para efeito de validade, de ser “honesto com Deus”, pode-se separar o “opus operatum”, isto é, o rito, do “opus operantis”, isto é, do desempenho e da prática de vida daqueles e daquelas que operam o rito? … Não estaremos correndo o risco de, mais uma vez, darmos razão a Marx, quando, ao avaliar a vida, o desempenho, a prática dos religiosos do seu tempo, com toda a razão disse que “religião é ópio do povo”, droga que aquieta, igualmente, a consciência dos oprimidos em sua miséria, e a dos opressores em seus crimes hediondos? …
Se a celebração da Missa não é feita por uma Comunidade de Discípulos/as e Missionários/as, que, por isso mesmo, se esforçam por viver um radical compromisso com a Vida do seu povo, exercendo exemplarmente a sua cidadania e participando destemida e generosamente das lutas sociais, por um mundo de justiça e de paz, onde todos e todas possam viver com dignidade e ser felizes “assim na terra como no céu”, se não for assim, repito, estará esta Missa “santificando” o nome do Pai e manifestando a “salvação”, ou estará sendo uma tremenda blasfêmia para com Deus e um mortal narcótico para a nossa gente?…
3. A VIDA DE NOSSOS POVOS HOJE
Em continuidade com as Conferências Gerais anteriores do Episcopado Latino-americano, este documento faz uso do método “ver, julgar e agir”. Este método implica em contemplar a Deus com os olhos da fé através de sua Palavra revelada e o contato vivificador dos Sacramentos, a fim de que, na vida cotidiana, vejamos a realidade que nos circunda à luz de sua providência e a julguemos segundo Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, e atuemos a partir da Igreja, Corpo Místico de Cristo e Sacramento universal de Salvação, na propagação do Reino de Deus, que se semeia nesta terra e que frutifica plenamente no Céu. Muitas vozes, vindas de todo o Continente, ofereceram contribuições e sugestões nesse sentido, afirmando que este método tem colaborado para que vivamos mais intensamente nossa vocação e missão na Igreja: tem enriquecido nosso trabalho teológico e pastoral e, em geral, tem-nos motivado a assumir nossas responsabilidades diante das situações concretas de nosso Continente. Este método nos permite articular, de modo sistemático, a perspectiva cristã de ver a realidade; a assunção de critérios que provêm da fé e da razão para seu discernimento e valorização com sentido crítico; e, em consequência, a projeção do agir como discípulos missionários de Jesus Cristo. A adesão crente, alegre e confiante em Deus Pai, Filho e Espírito Santo e a inserção eclesial, são pressupostos indispensáveis que garantem a eficácia deste método.(19*)
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Diante de nós, o 2º Turno da eleição para Prefeito. Um desafio que importa encarar com consciência crítica, à luz dos critérios do Evangelho. E é uma oportunidade de fazer escolhas, sabendo que há sempre dois lados e precisa tomar partido: o da pobre viúva ou do juiz injusto, o da periferia ou o das elites do dinheiro, o de Jesus Cristo ou o do mundo opressor.
E basta pensar no próprio voto?… Como discípulos/as missionários/as, “luz do mundo e sal da terra”, não temos que ser militantes: em nossos ambientes de vida ajudarmos os/as demais a fazerem as escolhas certas?…
* O numeral 19 refere-se ao item posterior à Introdução e antecede o PRIMEIRO CAPÍTULO do Documento de Aparecida,
Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS