Edilson cirio1

O Círio, com uma multidão de dois milhões de pessoas nas ruas. E eu nadando neste rio vivo, andando atrás de Maria de Nazaré. Um rio de gente, onde a humanidade se iguala sem igual. E se fraterniza como nunca na vida real… no dia a dia da luta e de todo tipo de agruras e sofreres. Ali, naquele rio humano, se condensam tantos sonhos, tantas promessas, esperanças, desejos e preces, por tão diversas intenções! E tantas expressões de gratidão, mais que de pedidos! Tantas contradições! Não pude chegar perto de Maria, porque não era possível vencer a correnteza e os obstáculos que me distanciavam e separavam dela. O máximo que pude chegar foi a uns vinte metros. Somente quando a corda e a berlinda (local que carrega a imagem da Virgem de Nazaré) passaram, subindo pelo centro da Avenida Presidente Vargas. Depois foi se distanciando, até sumir da vista, afogada pela multidão, apesar de eu continuar andando atrás dela.

O Círio de Nazaré e um mar de gente, andando como se fossem águas encrespadas por um vento forte. Hora ondeia para um lado, hora para o outro, vez para o Norte, vez para o Sul. E os diques e margens humanas das guardas, de braços entrelaçados, seguram os banzeiros pra ninguém se machucar. Só vendo para acreditar! Neste Círio, o assunto (tema, se quiser), foi a primeira frase da Salve Rainha: Salve, Rainha! Mãe de misericórdia. Eu não tenho paciência, nem resistência para nadar até a foz deste Rio. Sempre salto fora em algum ponto e corro pelas margens para esperar a chegada da berlinda, na Praça Santuário da Basílica de Nazaré. Chegou em torno das 11:30, depois de cinco horas de caminhada, apesar de o percurso não chegar a quatro quilômetros!

Acompanhar o Círio é também um momento para agradecer por tantas graças e ternura recebidas… É um momento de fé e esperança e sobretudo de oração. E quanto mais sentimos a mão amorosa de Maria em nossa vida, mais se aguça no coração, o desejo de ir no próximo ano. Assim, entendo por dentro o que vai no coração de tantos romeiros,  promesseiros, devotos e o que se queira dizer desta multidão.

Um escritor paraense, talvez por ser agnóstico, chamou de “Carnaval devoto”. Apesar de ser um estudo “antropológico”, ao simples romeiro pode soar como ofensa ou blasfêmia chamar de “carnaval” tal manifestação de fé e devoção. Mas, evidentemente, tudo depende das motivações de quem mergulha neste mar humano em movimento. Ou da perspectiva de quem analisa o fenômeno. Uma coisa é certa, ninguém fica indiferente diante desse mar de gente e daquela que o provocou.

Aí eu me lembro da canção: Quem é Esta que avança como a aurora…

Não levei nada para o Círio, nem celular, nem relógio, nem qualquer outro assessório. As milhares de imagens que registrei estão nos quadros da memória ou nas paredes do coração…

edilson cirio2

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Obs: Realizado em Belém do Pará há mais de dois séculos, a festa do Círio de Nazaré ocorreu esse ano no dia 09 de outubro. Sempre ocorre no segundo domingo de outubro. A cada ano se tem a impressão que aumenta a multidão: com certeza, mais de dois milhões de pessoas.

Imagens enviadas pelo autor (retiradas da internet)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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