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Recolhida junto a um tuxaua (chefe de tribo) dos Anambés no norte paraense, em 1865, pelo folclorista Couto Magalhães, e publicada em 1876 n’O selvagem, a lenda de Ceiuci traz um belo ensinamento sobre como levar a vida: fugindo ou enfrentando os problemas que cruzam nosso caminho? O que, aliás, remete, segundo o próprio Magalhães, às narrativas mitológicas de Hércules e Ulisses, marcadas por obstáculos e peregrinações. Recontada aqui com o olhar e a sensibilidade de Maria Inez do Espírito Santo, esta fábula tribal conta a história de um indiozinho que saiu para pescar e acabou virando alvo da Velha Gulosa, que come tudo que vê pela frente: bicho, gente e até — muito cuidado para não perder os dedos, leitor! — livro com lenda indígena. Pego pela Ceiuci, o índio é salvo pela infreável força do amor, dando início a uma fuga interminável da gula fatal da Velha faminta.E, se não fossem por eventuais mãos amigas — ou melhor, patas e asas amigas —, o curumim certamente seria devorado. Tanta corrida, preocupação e medo não deixaram que ele percebesse a passagem do tempo. Quando, enfim, se dá conta, encarando seu reflexo nas águas do rio, ele já não é indiozinho, mas um velho índio. Que muito viveu e nada viveu correndo do iminente perigo. Uma fuga da vida e das eventuais dificuldades e empecilhos. Fugiu tanto da Velha e esqueceu não poder escapar da velhice. Cansado e sozinho, onde encontrará segurança, repouso, abrigo, e, finalmente, colo, se o amor ficou para trás, os amigos foram passageiros e não existe mais um lugar para chamar de ninho?
Obs: Imagem enviada pela autora.