Sabe-se muito pouco dos azuis
Dos azuis absolutos
Um azul profundo entre nós
Abissal…
Como vírgulas e reticências…
Sabe-se muito pouco de azuis profundos…
A distancia entre ilhas
A onda que lambe a beira da praia
A subjetividade do poeta
Uma flor colombiana
Os azuis desmantelados da Sandrinha
Os olhos de uma criança londrina
O céu da Várzea quando anoitece
As casas desbotadas na beira das estradas
A voz da Billy ou da Mercedes Soza
De Totó La Momposina
De Dona Ivone Lara
O azul quase verde da praia do Francês…
Realmente um quase nada…
Um naco de nuvens
Um saco de lixo
Um papel de embrulhar maçã
A réstia azul da barriga da rã
O que mais de azul?
A fome roxa da America do Sul?
Las bruxas que no existen pero que cremos…
O duende e sua sopa de algas azuis…
Se este azul é ilusão de óptica
É apenas o ar atmosférico que nos envolve
Então o que é este azul profundo
Palpável e permeável
Que nos interpõe
E nos envolve e absorve
E agrega e funde?
Talvez o lume do gás butano
Sob a chaleira quente
Do café que cheira…
Talvez a possibilidade derradeira
Da mão meio gasta
Que terce a esteira…
Talvez o fiozinho da vida
Que une a boca do bebê
Ao peito da mãe…
Talvez, talvez
A malfadada sina ou o rfa
Da triste Medusa e de suas irmãs