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(para Jorge Luis Borges)

Perdi o número dos anos
em que estou nas trevas.

O cárcere é profundo e de pedra.

Agravado pelos sentimentos
de opressão e de grandeza.

Abri o peito de muitas vítimas.
Meu sabre sabe:
não há magia
que me faça levantar do pó.

Mas entre os tormentos,
me mantive silencioso.

Assim,
fui entrando na posse
do que já era meu.

Prisão ou lar,
todas as casas são iguais.
O que as difere é saber
se elas estão edificadas
no céu ou no inferno.

Porque eu sabia
da sentença do deus,
do seu encantamento
capaz de conjurar
todos os males do mundo.

Que a cada geração
há quatro homens honestos
que sustentam o universo
e o justificam diante do Senhor.

Esses anônimos colunatas
não se conhecem
e andam perdidos pelo mundo.
Se soubessem
do alto ministério que cumprem
já teriam abdicados
dessa hercúlea tarefa.

E que os loucos
não existem nas cidades
apenas para chamar o povo à razão,
mas, de tempos em tempos,
Deus os usa
para que sua sabedoria
em sua bocas
envergonhe a soberba humana.

E também
que a felicidade maior
não está em sentir
e nem em imaginar,
mas em entender.

Compreendi
que o trabalho do poeta
não está na poesia,
mas na sua invencionice de razões
que a tornam admirável.

O leão, o escravo e o senhor,
todos morrem.
A morte não tem mistério.
Misteriosa é a existência.
E o mistério é a napa
que cobre nossos olhos
a nos proteger da vida.

Parte do sobrenatural
e até do divino,
o mistério da nossa existência
não nos é revelado
porque a solução do mistério
é sempre inferior ao mistério.

Ele, o mistério,
é a velha solução
para retardar o inevitável.

Guardo essa fórmula
deitado na escuridão,
apenas para que os dias
me esqueçam.

Porque eu era,
como o universo,
inconcebível.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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