“Quem é o homem?” Essa questão antropológica é a pedra fundamental sobre a qual teoria e conteúdo de qualquer paradigma bioético se fundamentam. E a resposta a este questionamento dá forma às diferentes normas, princípios, valores ou intuições que identificam o ser humano no discurso da Bioética. Se não sabemos quem é nem o que significa o ser humano, como podemos julgar se as forças prodigiosas da Ciência Biomédica ameaçam ou aprimoram nossa humanidade?

Temos inúmeras teorias antropológicas, e a reconciliação destas múltiplas fontes de informação é crucial hoje. Temos antropologias de cunho científico, filosófico e teológico que não se conhecem e muito menos dialogam entre si. Sempre existe uma ideia ou imagem do ser humano no centro dos discursos bioéticos atuais relacionados com aborto, eutanásia, suicídio assistido, decisões de final de vida, pesquisa com células-tronco, clonagem, Engenharia Genética etc.

Temos, portanto, que discernir e optar por um modelo afinado com a perspectiva dos valores cristãos evangélicos. Nesta perspectiva, uma “bioética de inspiração personalista” nos protegeria do utilitarismo consequencial de um lado e, de outro, do subjetivismo e relativismo ético. Assim, a dignidade da pessoa “não se atribui, mas se reconhece; não se outorga, mas se respeita”. Isso apesar do longo e sofrido caminho histórico percorrido em terras brasileiras para que a dignidade de indígenas, negros e mulheres tivesse seu reconhecimento sócio-histórico-cultural-religioso e político.

Diálogo produtivo – Vivendo numa sociedade dita pós-secular, teremos que aprender a “respeitar o diferente” ao mesmo tempo que teremos de aprofundar nossas convicções de valores em termos do sentido, valor e dignidade do ser humano no contexto maior de nossa casa comum, o planeta Terra. No entanto, existem duas visões de ser humano que vão estar em constante discussão e disputa: a visão religiosa (imagem e semelhança de Deus) e a secularista.

Nenhuma visão se renderá ou se dará por vencida pela outra. Seria possível um diálogo produtivo entre estas duas visões (religiosa e secularista)? E como conduzi-lo? Extremistas de ambos os lados, militantes ateus e intransigentes dogmáticos insistem que não existe um chão comum. Pensadores mais equilibrados e flexíveis de ambas as visões esperam e trabalham num diálogo respeitoso, e defendem a necessidade de um chão comum na arena pública.

Este cenário provoca todos os que lutam para a construção de um mundo melhor, sejam estes profissionais da saúde, cientistas, pesquisadores e os que se dedicam à reflexão bioética, na árdua tarefa de promover e defender a vida humana e cósmico-ecológica, no reconhecimento da dignidade intrínseca da pessoa e sua integralidade corporal, psíquica, social e espiritual. Que Antropologia embasa a visão e compreensão da Bioética? Temos como desafio refletir, aprofundar e elaborar uma visão antropológica que dialogue respeitosamente com outras visões sobre o ser humano. Essa visão não pode cair em fáceis reducionismos e, ao mesmo tempo, deverá ser promotora de inclusão e não de exclusão, garantindo a promoção e a defesa da dignidade humana, principalmente a dos mais vulneráveis. Com esta fundamentação, buscamos, esperançosos, um futuro promissor para toda a humanidade.
Obs: Fonte-  Família Cristã 903 – Mar/2011

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