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Esse foi o tema geral do 7o Fórum Mundial de Teologia e Libertação em Montreal, no Canadá. Durante quase uma semana, Montreal abrigou o 12o Fórum Social Mundial. Pela primeira vez, esse encontro dos movimentos sociais e da cidadania internacional se reuniu em um país rico do norte do mundo. Ligado ao fórum social, teólogos/as cristãos de várias Igrejas se reuniram em um Fórum Mundial de Teologia e Libertação para refletir sobre como viver a fé e testemunhar a esperança em meio a esse mundo tumultuado e cheio de desafios. Esse encontro de teólogos/as reuniu mais de 400 pessoas, de todas as províncias do Canadá e ainda irmãos e irmãs, vindos de 23 países do mundo.
Nunca como agora tem sido tão importante nos reunir e nos animar na resistência e na esperança. O mundo está mergulhado na maior crise ecológica de sua história. Essa crise, provocada pelo sistema social e econômico que a sociedade dominante impõe à maioria da humanidade tem consequências terríveis para o planeta e torna a sociedade cada vez mais desigual e injusta. Em 2015, um relatório da Oxfam, instituição ligada à ONU, confirma que menos de 20% da população se apropria de 94% de todas as riquezas do mundo. E mais da metade dessa riqueza está nas mãos de apenas 1% da humanidade.
Não podemos ser coniventes com esse modo de organizar o mundo e, ao mesmo tempo, nos sentimos frágeis para mudá-lo imediatamente. Por isso, a resistência se torna um imperativo para esses tempos difíceis. Essa palavra (resistência) foi o termo usado na França ocupada pelos alemães nazistas. A resistência era, então, a organização de grupos clandestinos nos quais as pessoas arriscavam a vida para esconder judeus e suas crianças da sanha assassina dos nazistas e também para empreender ações armadas para libertar o país. Agora, apesar de não termos um regime nazista, temos uma ditadura econômica. E não é mais apenas um país que é ocupado. Esse modo cruel e assassino de organizar a sociedade domina e maltrata continentes inteiros. E conta com o apoio dos grandes meios de comunicação para convencer a população que não há alternativas e a única forma de organizar o mundo é essa.
Quem tem consciência ética não pode ser conivente com essa situação. Atualmente, entrar na resistência significa revelar ao mundo as contradições e a face cruel do sistema que tenta apresentar-se como ético. Mesmo se somos obrigados a viver nesse mundo, de acordo com suas regras e valores, podemos nos esforçar por nos manter o mais possível livres e comprometidos em defender a liberdade de nossos irmãos e irmãs mais frágeis. Gandhi e Martin-Luther King propunham para a resistência dois princípios fundamentais da ação não violenta: a não cooperação com o sistema e a desobediência civil. Como não podemos fazer isso sozinhos e isolados, precisamos nos integrar nos grupos que buscam outro mundo possível e promovem ações comunitárias alternativas.
No latim, resistir (resistere) é um modo novo de existir (ex-sistere) no sentido de manter-se de pé diante das dificuldades. No plano pessoal, isso exige de nós um estilo de vida simples, baseado na cooperação e não na competição. Supõe que fortaleçamos os laços de partilha e amizade. Ao mesmo tempo, precisamos nos abrir, cada vez mais, à arte e à beleza da natureza. Assim, manteremos nosso equilíbrio pessoal na relação justa entre silêncio e palavra, tempo e infinito. Uma canção chilena nos adverte:
“Deixa de pensar que tudo está perdido,
Torna a descobrir que sempre há um motivo,
Deixa de pensar que não tem sentido,
Volta a imaginar que os rios sempre dão para o mar”.
Obs: O autor é monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares.
É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.