1 de setembro de 2016
Puxo, lá do fundo da memória, o nome dos trinta e dois alunos da primeira série C, do então Ginásio Estadual de Itabaiana – que nós só chamamos de Ginásio, porque não tinha outro na tribo -, do exato ano de 1962. Lá, no meio, como o último da chamada, por força do nome começado por um v, eu, com onze anos, às véspera dos doze. Do conjunto, lembro bem, eram vinte e seis moças e seis rapazes. Dos últimos, por ordem alfabética: Luiz Carlos, Paulo Nunes, Pedro Teles, Olívio, Verinaldo e eu. Das meninas, arrisco quase todas: Odete, Lusa Mabel, Maria das Graças (duas), Rute, Rivanda, Tania, Sonia, Marinalva, Selma, Rivalda, Maria de Jesus, Vera Cândida, Vera Mônica, Maria de Eliezer, Djalmira, Lourdinha Moreira, Toinha, Neilde, Edivalda, Salete, Nazaré e Lúcia.
Vinte e três. Faltam três nomes. O rosto de uma das colegas surge na pucumã da memória. Mas não o suficiente para apontar o nome. Acresce-se o fato de que algumas meninas não passaram do primeiro ano, tomando rumo diferente, o que facilitou a distância que se cavou entre nós. O certo e definitivo é que a memória fechou as portas para os três nomes restantes, que, para chegar a tanto, necessito da memória dos demais colegas.
Dos professores, dr. Bezerra, Português; Oliveira, no Latim, que não passou de uma aula; Lourdes Oliveira, Desenho; Zaira, Matemática; Marli, Geografia; Zé Augusto Siqueira, História. E quem mais? Desses, apenas os dois primeiros já partiram para o além. O diretor: Edson Leal Menezes, que só elegantemente o frequentava trajado num terno.
A caderneta de cada aluno, com retrato, assinatura do diretor, se constituía num ingrediente novo. Diariamente, um aluno arrecadava as cadernetas para, na secretaria – Avé, Dona Lilia!, perdoai nossas inocentes brincadeiras -, receber o carimbo de compareceu. Muitas vezes, fui o encarregado. De outro lado, a farda – que vez primeira vesti, tão importante que, para certas fotos, em casa, nela a gente se enfiava -, professor para cada matéria, recreio de dez minutos após uma aula de cinquenta, férias duas vezes ao ano, o tamanho do ginásio a reunir os alunos com as meninas de saia comprida do pedagógico, um mundo grandioso que, dava um toque de intenso movimento nos corredores nos momentos da chegada e da saída, e, sobretudo, no recreio, tudo se somando para aumentar o hiato do primário para o curso ginasial.
O futuro, ah, o futuro, era uma página que ninguém arriscava escrever uma linha sequer. Não se pensava ainda na carreira a seguir, porque ainda estávamos na primeira série, nos acostumando com a nova rotina, o mijo do primário ainda fedendo. O futuro estaria muito e muito a frente a nos esperar, como nos esperou, separando cada um para seguir seu próprio caminho, na catalogação de nossas derrotas e vitórias, tristezas e alegrias, ficando a primeira série para trás, como aquela casa que nos deu o abrigo para o passo inicial da caminhada que, ainda hoje, estamos a dar, porque esta, para cinco colegas encerrou há muito tempo, enquanto que, para nós, continua, porque tudo ainda é futuro.
Obs: Publicado no Correio de Sergipe
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.
